Homenagem a João Saldanha.
Carnaval FC, Séries

“É PRA VOCÊ, JOÃO!” Botafogo Samba Clube homenageia João Saldanha no Carnaval de 2022

Ex-jogador, treinador e, acima de tudo, torcedor do Botafogo, João “Sem Medo” foi um jornalista de enorme prestígio no Brasil. Por isso, a Botafogo Samba Clube fará uma homenagem a João Saldanha no Carnaval de 2022.


Em 2020, a conquista do tri-campeonato mundial do Brasil completou 50 anos. Na ocasião, a PressFut relembrou a importância de um dos responsáveis por aquele título mundial: João Saldanha. Crítico da ditadura militar brasileira, João foi demitido do cargo de técnico da seleção nos últimos amistosos antes da copa após pressão do general Médici. Na ocasião, como citado por Reinaldo, João montou um dossiê citando mais de 3.000 presos políticos e centenas de mortos e torturados pela ditadura.

Por isso, a Botafogo Samba Clube chega ao Carnaval de 2022 com o samba “Um apaixonado pela verdade, caminhando em tempos de ilusão”. Dessa forma, a escola de samba questiona: hoje, como seria João? O que ele diria sobre tudo o que está acontecendo no país?

Com Marcelo Adnet entre os carnavalescos da escola, a Botafogo Samba Clube trouxe um nome importante para o próximo carnaval: Ricardo Hessez. À covite de Adnet, o desenhista chega à escola após passagens por Viradouro e São Clemente, escolas da elite do carnaval carioca. Uma baita contratação para quem disputa divisões inferiores na Intendente Magalhães.

Homenagem a João Saldanha

https://pressfut.com.br/post/joao-saldanha-o-arquiteto-sabotado-do-tri/

Culto, o cronista carregou três elementos principais em sua trajetória: o jornalismo, o futebol e o ativismo. Secretário-geral da União da Juventude Comunista (filiado ao PCB), o botafoguense foi fichado e mantido preso no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), órgão que reprimia e vigiava líderes que eram contrários à ditadura militar.

“Ele [Médici] escala o ministério, eu convoco a seleção. Quando ele formou o Ministério não me pediu opinião. Por isso não quero a opinião dele na hora de eu formar o meu time. – João Saldanha.

Todavia, sua maior paixão era o Botafogo. Como jogador, não teve muito destaque, mas como técnico, foi campeão carioca em 1957. Naquele time, nada mais, nada menos, que: Didi, Garrincha e Nilton Santos. Trabalho que o credenciou como técnico da seleção brasileira, conhecida como “As Feras do Saldanha”, que resgatou o orgulho do nosso futebol no final da década de 1960.

Como jornalista, tornou-se um dos maiores destaques da crônica esportiva brasileira. Eternizado de todas as formas, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) criou o Prêmio João Saldanha de Jornalismo Esportivo. Esse prêmio reconhece o trabalho dos profissionais da TV, do Rádio, da Internet e dos jornais impressos.

O samba-manifesto

Em entrevista ao GE, Leonel Querino, um dos compositores do samba, diz que o samba por si só é um ato de resistência e que a escola de samba sempre foi um local de acolhimento às minorias.

“João Saldanha nos falta hoje em dia. Estamos precisando de mais Saldanhas. Um grande cronista que não tinha medo da opressão, da ditadura, que fazia questão de se colocar ao lado dos oprimidos. Junte isso à realidade que estamos vivendo, com o fato de que a escola de samba é, por natureza, resistência. Por isso, fizemos essa pergunta: “O que João diria nos tempos atuais?”. É isso que tentamos mostrar no enredo, com a consciência das lutas de classe, e de que é importante lutar contra todo tipo de opressão.” – Leonel Querino ao GE.

Carnavalescos Ricardo Hessez e Marcelo Adnet fazem homenagem a João Saldanha. Crédito: Vitor Melo
Carnavalescos Ricardo Hessez e Marcelo Adnet fazem homenagem a João Saldanha. Crédito: Vitor Melo
Confira a letra do samba-enredo:

PARTIU… DOS PAMPAS O VERBO
DE LENÇO VERMELHO, AMARGO RINCÃO
NA MARRA, AMARRAS DA VIDA
PRESTES A ENSINAR NOBRE LIÇÃO
VENCER A LUTA É NÃO SE RENDER
REVOLUÇÃO NÃO SE ENTREGAR JAMAIS
É LENHA QUE “BOTA FOGO” NA VEIA
É A VOZ DE QUEM ANSEIA
POR SEUS DIREITOS
NA ESTRELA SOLITÁRIA, A RESISTÊNCIA
PERSISTE DO LADO ESQUERDO DO PEITO

FOI O GRITO DO SILÊNCIO
O REVIDE DO MARTELO
E O POVO QUE TRABALHA
PELO VERDE E AMARELO
FOI O DRIBLE NA OPRESSÃO DA TIRANIA
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
CONTRA A VELHA INFANTARIA

AH, A FINA BOSSA A BEIRA DO MAR
A POESIA ROLANDO NA AREIA
FILOSOFIA A MESA DE BAR VAGUEIA
E HÁ QUEM DIGA VOCÊ NÃO SE COMPORTA
MAS A VERDADE ESTAVA ALI EM LINHAS TORTAS
DEDO NA FERIDA É TEU ENREDO
ABRE O VERBO “JOÃO SEM MEDO”
BRASIL, QUE AINDA VIVE SOB AS GRADES DA ILUSÃO
TEU SONHO MENINO TEM FORÇA TAMANHA
FEITO PALAVRAS DO VELHO SALDANHA!

É PRA VOCÊ JOÃO UM “SAMBA-MANIFESTO”
NINGUÉM CALA ESSE ALVINEGRO PROTESTO
BOTAFOGO SAMBA CLUBE É O POVO NA RUA
NO SEU ATO DE CORAGEM NOSSA LUTA CONTINUA

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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