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Futebol e sustentabilidade caminham lado a lado. Nos últimos anos, novas leis e campanhas engajaram times e torcedores. A ideia de clubes sustentáveis mostra-se uma pauta atual e necessária.
Que o futebol vai muito além do campo e bola é um fato. Para isso acontecer, existe um processo político-empresarial-administrativo por trás. E a partir dessa ótica, é preciso compreender questões políticas e sociais. Portanto, a necessidade de se adequar à pautas atuais servem também para o futebol. Com o frequente desmatamento e o avanço do aquecimento global, é impossível se desconectar da sustentabilidade. Por isso, precisamos preservar o meio ambiente e seus recursos naturais.
Ao entender que não há outra alternativa, os clubes de futebol, geridos por empresas ou políticos, entraram nessa luta. Como sempre, algo que começou pelo futebol europeu. Entretanto, a discussão sobre clubes-sustentáveis já é uma pauta forte no Brasil. A cada ano, aumenta esse engajamento sócio-ambiental. Aos poucos, vemos estádios autossustentáveis tomando forma e campanhas de conscientização. Nesse ano, uma dessas campanhas chamaram atenção pela forma como foi conduzida.
Em parceria com o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), o Red Bull Bragantino entrou literalmente nesse jogo. O Maça Bruta encarou as queimadas em Bragança numa partida virtual promovida no Twitter. No lugar dos tradicionais comentários durante os jogos, os torcedores receberam diversas mensagens de conscientização e dicas de como ajudar a combater as queimadas. A cada 15 interações em uma publicação, o Braga marcava 1 gol. E a cada gol marcado, 50 novas mudas eram entregues para serem plantadas na Fazenda Serrinha, em Bragança. O jogo terminou 10 a 0 para o Bragantino e 500 novas árvores de 20 espécies diferentes foram entregues para serem plantadas. Além das árvores, o Braga ajudou na conscientização dos seguidores e na divulgação do trabalho do Instituto IPÊ.
Hoje a nossa partida será diferente: jogaremos, aqui no Twitter, contra as Queimadas em Bragança, às 18h, e esperamos a participação da torcida do Massa Bruta neste jogo tão importante! ⚽️🌳🌳
Segue o fio 🧶 para entender como a partida irá funcionar…#RedBullBragaXQueimadas pic.twitter.com/vyPFQno47t
— Red Bull Bragantino (@RedBullBraga) October 27, 2020
Sustentabilidade no futebol brasileiro
Por se tratar de pautas relacionadas ao desenvolvimento socioeconômico, político e cultural, a preservação do Meio Ambiente e todo desenvolvimento sustentável está sendo incorporado ao futebol. Com a chegada da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, o Ministério do Esporte criou novas diretrizes para a construção e reformas dos estádios e centros de treinamentos. Uso racional da água e eficiência energética foram alguns pontos da sustentabilidade proposta. Dessa forma, surgiram as primeiras mudanças positivas no país. O Mineirão por exemplo, reaproveita a água da chuva e gera energia limpa e renovável por meio de usina solar fotovoltaica instalada na cobertura do estádio e o reaproveitamento de resíduos.
Como vimos, a sustentabilidade é uma pauta recente no Brasil. Entretanto, ela não começou em 2014. Mas se formos tratar de um engajamento mais ativo, realmente, foi a partir da Copa do Mundo no Brasil. No anterior, em 2013, a Federação Paulista de Futebol criou o projeto “Eco Torcedor” em parceria com os clubes da primeira divisão paulista. Entre as ações realizadas estavam: o plantio de bosques urbanos e a coleta de resíduos sólidos recicláveis. O grande destaque foi, sem dúvidas, a coleta de resíduos. Mais de meio milhão de torcedores trocaram duas garrafas pet por um ingresso do campeonato paulista. A partir dessa coleta, mais de uma tonelada de resíduos recicláveis nos eco pontos instalados nos estádios foram recolhidos. Consequentemente, foram plantadas 16.260 mudas para a formação de bosques urbanos no estado.
Esse é um ponto importante das campanhas de conscientização e engajamento: além de gerar sustentabilidade, a federação gerou oportunidade para pessoas que não tinham condições monetárias de assistir um jogo de futebol no estádio. Bastaram duas garrafas recicláveis, para ter acesso ao estádio.
Nossos cases
Contudo, não se faz sustentabilidade apenas por federações e leis. Alguns clubes como os rivais Internacional e Grêmio, atuam nesse sentido por conta própria. O Beira-rio e a Arena do Grêmio reaproveitam a água da chuva para a irrigação do gramado e jardins, além da limpeza das áreas internas e externas dos estádios. Outra forma de atuar nessa luta, é fazendo parcerias privadas, como fizeram Corinthians e Palmeiras no passado por exemplo. Em 2010, o “Jogando pelo Meio Ambiente” foi responsável pela criação de uma reserva ambiental de árvores nativas da Mata Atlântica, onde foram plantadas 50 mil árvores.
Todavia, o setor privado não garante continuidade. Como foi o último caso. Os projetos de Corinthians e Palmeiras terminaram. Por isso, é importante lutar pela causa de forma própria. Claro, sempre buscando parcerias por uma luta que é de todos nós. O Atlético-MG é um dos maiores exemplos. Dono do maior centro de treinamento do Brasil e um dos melhores do mundo, a “Cidade do Galo” inaugurou nesse ano, a “Usina do Galo”. A partir de agora, ela é responsável pela produção de energia fotovoltaica para abastecer além do centro de treinamento, a sede administrativa e os dois clubes sociais. Ou seja, além de gerar benefícios ao meio ambiente, ela gera uma economia financeira, tornando o maior centro de treinamento do país autossustentável.
Ao olharmos esse case do Atlético, fica nítido que é possível fazer mais. Se o maior centro de treinamento do país conseguiu essa “façanha”, os outros clubes também podem, e devem seguir o mesmo caminho.
Clubes sustentáveis pelo mundo
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Além da campanha do Red Bull Bragantino, outras ações recentes chamaram a atenção. Na Inglaterra, o Burnley lançou seu terceiro uniforme sustentável em parceria com a Umbro. Nomeada de “Burnley Evergreen”, a campanha arrecadou todo o lucro das vendas dos uniformes, para o plantio de novas árvores em Lancashire. A cada kit vendido, o clube se comprometeu a plantar uma árvore para ajudar a compensar os danos causados pelo desmatamento que vem tendo um impacto devastador na crise climática global. A partir dessa campanha, mais de 2.000 árvores foram plantadas.
A questão levantada que todos podem fazer, fica nítida ao falarmos do caso a seguir. O pequenino Forest Green Rovers, da quarta divisão inglesa, foi reconhecido pela FIFA e pela ONU, como o clube mais sustentável do mundo. O time que carrega “Forest Green” (Floresta Verde) no nome, possui uma administração que preza muito por questões sócio-ambientais. Entretanto, nem sempre foi assim. Mas em 2010, a diretoria começou a “era mais verde”. Entre as medidas estão:
- Uniformes feitos com 50% de carvão de bambu;
- Gramado totalmente orgânico (usando algas marinhas como adubo e água coletada da chuva para irrigação, sem uso de qualquer pesticida ou fertilizantes);
- Energia geral das instalações do time são advindas de energia limpa, essencialmente captada por painéis solares – que alimentam até mesmo os cortadores de grama.
- Van de transporte dos jogadores é elétrica;
- Estacionamento do estádio oferece vagas com carregadores para carros elétricos;
- Dieta dos atletas 100% vegana – no estádio em dias de jogo, as pizzas e hambúrgueres vendidas também são de origem vegetal;
- Ingresso com informações da pegada de carbono para cada torcedor em jogos fora de casa, e os pagamentos feitos pelo clube são totalmente eletrônicos, sem operação de dinheiro.
Atualmente, o clube possui um projeto ousado para construir um grande estádio de madeira que seja autossustentável.
A ideia de clubes sustentáveis
Enquanto estudos apontam que o uso de energia solar pode chegar a 70% de economia nos valores gastos com energia elétrica, alguns clubes de futebol, principalmente no Brasil, chegam a ter a energia dos estádios e centros de treinamentos cortadas por falta de pagamento. Se pensarmos que a energia dos próprios atletas podem ser uma fonte de geração de energia, como bicicletas e outros aparelhos já fazem, podemos enxergar novas soluções. Entretanto, tudo depende de quão bem administrado um clube está sendo.
Comprovadamente, de forma óbvia, clubes que adotam processos de melhorias ambientais e implantação de processos de controle e reaproveitamento de água e resíduos, possuem resultados financeiros mais satisfatórios quando comparados aos clubes que não fazem uma boa gestão ambiental.
Portanto, adotar essas práticas além de ser lucrativo, não é mais do que a obrigação de todos nós. Principalmente dos clubes e grandes empresas. Pois essas medidas servem para combater o nosso próprio mau, causado por nossa existência. O futuro centro de treinamento do Botafogo por exemplo, fica num local isolado dentro da Mata Atlântica do Rio de Janeiro. É necessário que os futuros presidentes ou CEO’s, em caso de S/A, tenham planos e metas para tratar o CT e o Botafogo como sustentáveis. Isso serve não só para quem está perto da natureza, mas principalmente para os grandes centros urbanos. Precisamos de mais clubes sustentáveis.