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O futebol não foi encontrado. A infância foi roubada. Apenas 1% dos atletas de base alcançam o profissional. No Brasil, vende-se o esporte como a única chance de um futuro melhor.
Quando pensamos em jogador de futebol, imaginamos atletas famosos e vitoriosos que esbanjam dinheiro e admiração. Contudo, precisamos ter a noção da realidade. Informações da própria CBF (Confederação Brasileira de Futebol), mostram que 82% dos jogadores recebem até dois salários mínimos por mês. Algo totalmente diferente do que insinuamos a partir da mídia. Entre esses jogadores, poucos são aproveitados. Aliás, antes mesmo de conseguirem alcançar qualquer objetivo, eles sofrem diariamente por conta de comida e principalmente transporte, um dos maiores empecilhos. Apenas 1% dos atletas de base alcançam a equipe profissional. Construir um futuro a partir do futebol, é um chute completamente cego. Mas infelizmente, é a opção que sobra para muitos jovens do Brasil.
Ao mesmo tempo em que as chances são mínimas, elas são uma das únicas formas de traçar um futuro. Isso mostra que a desigualdade social é o maior problema do país. Como as chances são pequenas, é preciso conciliar o futebol com os estudos. Todavia, essa realidade não é possível para muitos jovens, que também precisam trabalhar desde cedo. Ou seja, caso um jovem não consiga fazer parte desse 1% e ainda não tenha estudado, seu futuro se torna um grande problema. Mas não tão distante do seu presente. Que sempre foi uma triste realidade.
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As falhas nos princípios base de formação
Não necessariamente, uma escolinha de futebol ou até mesmo um clube de futebol, deve formar um jogador profissional. Entretanto, é preciso cumprir alguns aspectos educacionais do esporte. Entre eles: socialização e inclusão. O esporte forma pessoas a partir de seu caráter recreativo. Contudo, os clubes brasileiros abandonam cada vez mais esse aspecto. O que gera problemas tanto para o futebol, quanto para a sociedade.
Um bom exemplo são as escolinhas de futebol. Atualmente, os grandes clubes brasileiros têm institucionalizado essas “escolas licenciadas” ou “oficiais”, que funcionam como franquias. Elas deveriam ser uma maneira de avaliar e captar novos talentos para as categorias de base do clube. Entretanto, não é o que ocorre na maioria das vezes. Infelizmente, elas são utilizadas apenas como fonte de renda. Muitas vezes pelo marketing do clube. Como são franquias, elas são uma forma de terceirizar a atuação da marca, gerando ofertas e serviços. Ao conquistar essa renda, não importa mais revelar novos jogadores. Vale destacar que não há nenhum problema em utilizá-las como expansão da marca, mas o princípio mor têm sido abandonado: formar atletas e cidadãos.
Outro exemplo são as famosas peneiras. Nesse caso, até o modelo é ultrapassado. A famosa história de Cafu é um exemplo. Ele foi rejeitado em diversas peneiras até conseguir se tornar profissional. Isso acontece porque não tem como avaliar de forma concreta, jovens atletas em um curto espaço de tempo. Normalmente, as peneiras ocorrem com mais de cem atletas. O que torna o processo ainda mais prejudicado. Fora isso, ainda ocorre os casos de corrupção, como compra de vagas.
Infâncias são perdidas
Portanto, ao tentar utilizar o futebol como ascensão social, não só o futuro pode ser perdido, mas a própria infância também. Em etapas das categorias de base, os jovens já começam a ganhar um salário de ajuda de custo, normalmente em torno de 250 reais. Mas varia muito. Isso de certa forma, cria o primeiro compromisso com o clube. O que faz com que o jovem se dedique mais aos treinos. Mas paralelamente, limita as atividades sociais dele. Enquanto seus amigos aproveitam a infância e adolescência, o prodígio jogador deixa de ir a festas e, como citado anteriormente, até mesmo a escola.
Não se pode romantizar o esforço de um jovem, quando é dada a ele, escolhas complemente limitantes. Ao forçá-lo dessa forma, direitos fundamentais como cidadão são retirados dele. Além disso, existem casos onde o jovem deseja seguir uma carreira, e os casos onde o jovem é forçado pelos pais a dar um futuro para a família. O que é mais um problema.
O futebol deveria ser um projeto de transformação social. Seja formando profissionais ou cidadãos. Entretanto, os clubes brasileiros, assim como uma boa e velha política, transformaram a formação dos jovens em máquina de dinheiro. Clubes são organizações sociais, mas não agem como deveriam. No fundo, as diretorias e seus conselheiros não passam de políticos. Políticos de um país desigualmente desenvolvido, que não deveria ter o esporte, como uma das únicas fugas da pobreza.