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Torcedoras do Irã assistem jogo de futebol após 40 anos

Taís Miotti
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Após muito tempo de proibiçõees, algumas iranianas puderam ser espectadoras de uma partida de futebol da primeira divisão de seu país.


O Irã autorizou na quinta-feira, dia 25 de agosto, as mulheres a assistirem um jogo de futebol da primeira divisão do Campeonato Iraniano, em Teerã. A partida era entre Esteghlal FC, o segundo time mais popular do Irã, e Mes-e Kerman. O evento aconteceu após 40 anos sendo proibidas de frequentarem estádios, com esporádicas exceções.

Por ser uma “ocasião excepcional”, o Esteghlal ofereceu balões, bandeiras azuis e flores para as torcedoras. Entre os 100 mil lugares do estádio, 500 ingressos foram destinados às mulheres, separadas do público masculino. Um site de notícias do país, Asriran, informou que quatro horas antes da partida, os acessos atribuídos a mulheres foram vendidos por cerca de US$ 70 no mercado negro, sendo que seu preço oficial era de menos de US$ 2,00.

torcedoras do irã na arquibancada acompanhando uma partida de futebol
Foto: Hossein Zohrevand / TASNIM NEWS / AFP

Além disso, as mulheres também prestaram homenagem a Sahar Khodayari, a torcedora do Esteghlal que faleceu após atear fogo em si mesma em setembro de 2019. Ela havia sido presa em 2018 ao tentar entrar em um estádio vestida como um homem. Além disso, foi apelidada de “menina azul”, em referência às cores do time do coração.

Esse caso gerou discussões e muitos foram os pedidos para que o Irã fosse impedido de participar de competições internacionais e que ocorressem boicotes nos jogos da seleção. Dessa forma, após a morte de Khodayari, a FIFA ordenou que o país aceitasse a entrada das mulheres nos campos de futebol.

 

Os últimos anos para as torcedoras

Desde a Revolução Iraniana, que aconteceu em 1979, o público feminino do país é constantemente barrado na entrada de estádios e não possui total liberdade para comparecer a jogos de futebol como espectadores.

Nos últimos anos, apenas puderam se fazer presentes em pouquíssimas ocasiões. Em 2019, após múltiplos pedidos da FIFA, pela primeira vez depois de décadas, centenas de iranianas foram liberadas para assistir Persepolis jogar contra Kashima, do Japão, na decisão da Liga Asiática, em Teerã.

Em janeiro de 2022, acompanharam uma partida da seleção do Irã durante as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, contra o Iraque. Já em abril, mais uma vez foi negada a entrada de mulheres, dessa vez na partida entre Irã e Líbano. Cerca de 2.000 iranianas, que haviam adquirido ingressos para o jogo e estavam presentes nos arredores do estádio Imã Reza não puderam entrar. A decisão das autoridades causou indignação no país e as forças de segurança dispersaram manifestantes com gás lacrimogêneo.

 

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História das proibições no Irã

As proibições começaram a ocorrer após a Revolução Iraniana. Logo que tomou o poder, o líder supremo do Irã, aiatolá Ruhollah Khomeini, determinou que todas as mulheres teriam de vestir o véu islâmico, independentemente de sua religião ou nacionalidade. Apesar de o país possuir uma Constituição, o comportamento das pessoas é ditado pela sharia, conjunto de normas do Alcorão. De acordo com essa corrente do islã, o ambiente do futebol causa muita exposição às mulheres, e seria um território “pecaminoso” a elas.

Embora as mulheres nunca tenham sido oficialmente impedidas de assistir jogos de futebol masculino no Irã, elas são repetidamente barradas em estádios. Antes da revolução, elas podiam comparecer a eventos esportivos e possuíam liberdade em relação ao seu modo de vestir.

Nesse sentido, os líderes religiosos, que dispõem de importantes papéis nas tomadas de decisões no país, argumentam que as mulheres devem estar protegidas do ambiente masculino e da vista dos homens. Por isso, não devem usar roupas esportivas, já que seus corpos podem ficar parcialmente visíveis. Ahmad Alamolhoda, influente líder religioso, nomeado pelo líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, disse que é contra a presença de mulheres como espectadoras em competições esportivas masculinas, por considerar isso uma “vulgaridade”.

 

Direitos Humanos pela FIFA

A permissão para assistir à partida no mês passado se traduziu como uma vitória de um movimento global que luta pelo direito de mulheres poderem escolher entre ir ou não a um jogo de futebol. No entanto, ainda existem muitas questões a serem debatidas. Ainda não é possível que estas comprem os ingressos, só sendo permitido para homens, e também não podem decidir onde se sentar, nos poucos lugares destinados a elas, limitando sua presença em grande quantidade.

Assim, essas restrições evidenciam que, mesmo com a presença feminina, o Irã ainda se opõe ao estatuto da FIFA, que coíbe qualquer tipo de preconceito. Os artigos 3 e 4 do estatuto marcam o compromisso com os direitos humanos e contra qualquer discriminação, além da igualdade e neutralidade.

Taís Miotti

Economista falando de futebol nas horas vagas.
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