Futebol, Futebol Nacional

Copa do Brasil: Saiba como regulamento da competição contribui para a cultura de se acovardar no futebol brasileiro

Posteriormente à final da Copa do Brasil 2020, a nova temporada do torneio já iniciou causando polêmica. Após a maioria das partidas serem televisionadas para todo país, foi possível observar o descaso da CBF aos “azarões”, e também o pequeno desnível entre os clubes de topo e os de baixo investimento.

Devido ao regulamento da competição, um total de dez clubes “favoritos”, ou foram eliminados, ou acabaram salvos pela regra do torneio após más atuações. Entre as equipes na lista, não estão as que apenas jogaram pela vantagem, mas sim tratando-se de times que disputaram as duas primeiras divisões no ano passado.

Troféu da Copa do Brasil
(Foto: Lucas Figueiredo/ CBF)

OS VENCEDORES NO SUFOCO:

Ao contrário de toda lógica pensada, todos esses sofreram contra seus adversários. A lista das dez equipes, foi simpática com alguns clubes. Dentre os “esquecidos”, o América Mineiro venceu a partida em um contragolpe quando o goleiro adversário foi ao ataque para tentar o gol milagroso.

Junto à isso, outra equipe que sofreu e esteve fora da lista, foi o Bragantino. Mesmo com um bom time, o clube de Bragança virou o primeiro tempo perdendo por 2-1 contra o Mirassol. Apenas na segunda etapa que o Braga empatou, e já no fim da partida, Cuello fechou o caixão do time auriverde, que deu muito trabalho no confronto.

Além de América e Bragantino, o Fortaleza respirou apenas no apito final. Contando com dois gols anulados, o tricolor sofreu durante toda a partida, vendo o Caxias fazer ser superior durante os 90 minutos.

SALVOS PELO REGULAMENTO:

Dentre os clubes de maior tamanho e de prestígio nacional, Vasco, Cruzeiro e Cuiabá sofreram até o instante final, mas se classificaram. Dessa forma, o Cuiabá, estreante da Série A este ano, deve agradecer ao Walter, goleiro recém contratado, por garantir R$ 1,07 milhão de reais ao clube. Conforme dito, o Sergipe obrigou ao guarda-redes cuiabano fazer três grandes defesas, sendo o melhor da partida.

De maneira idêntica, o Cruzeiro foi até Boa Vista, capital de Roraima, para garantir uma sofrida classificação. Apesar de finalizar mais vezes (18×11), o que se viu de mais perigoso, veio da equipe do Mundão. Obrigando Fábio a fazer quatro grandes defesas, a raposa só conseguiu o gol salvador no segundo tempo, se classificando para a segunda fase.

Igualmente aos dois exemplos já citados, o Vasco foi a equipe que mais sofreu. Posterior à um primeiro tempo de muita tranquilidade e domínio vascaíno, o que se viu na segunda etapa foi um jogo totalmente diferente. Após os dez minutos iniciais da segunda etapa, só deu Caldense. Foram ao todo, 27 finalizações para o time mineiro, contra apenas seis da equipe carioca.

Marquinhos Gabriel comemora gol decisivo na classificação da Copa do Brasil
Marquinhos Gabriel comemora gol contra a Caldense (Foto: Célio Messias/UAI FOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)

OS ELIMINADOS DA COPA DO BRASIL:

Após passar por todo sofrimento, foram sete clubes que não só fizeram sua torcida sofrer, como chorar. Sport, Goiás, Sampaio Corrêa, Confiança, Figueirense, Brusque e Paraná foram os eliminados. Sob o mesmo ponto de vista, todos esses clubes, seja na temporada passada ou atual, disputaram ou irão disputar as duas primeiras divisões nacionais.

Sendo assim, é possível observar o caso do Sport. Clube presente na maioria dos campeonatos da primeira divisão, o Leão da Ilha não se classifica para a segunda fase desde 2018. Já o Goiás, clube com situação semelhante ao Sport, foi, no máximo, apenas até a Terceira Fase nos últimos 3 anos.

Juazeirense eliminando o Sport pela Copa do Brasil
Gol salvador da Juazeirense que eliminou o Sport (Foto: Carlos Humberto/ Agência CH)

MOTIVOS:

Ainda que os resultados comprovem que se acovardar no futebol não é uma boa estratégia, tal medida é adotada em massa pelos clubes brasileiros. Independente de sua grandeza, equipe e investimento, já dizia Luxemburgo: “O medo de perder tira a vontade de ganhar”.

Dentre os motivos para as equipes de médio/grande porte abdicarem de jogar futebol, se deve à uma cultura de resultado e medrosa. Tal cultura encontra diferenças explícitas ao futebol jogado na Europa, tanto mental quanto taticamente. Além disso, medidas como a do regulamento do torneio, ajudam ainda mais esse pensamento retrógrado no futebol nacional.

Sendo assim, grande parte dos erros atuais, se devem à ilusão do passado. Após grandes gerações de craques no Brasil, o país símbolo do futebol perdeu sua magia. Atualmente, o futebol brasileiro não é mais o “Futebol Arte” ou a seleção “Joga Bonito”.

COMO VOLTAR AO FUTEBOL ARTE?

Devido à Lei Pelé que deu uma série de direitos aos jogadores e empresários, os clubes brasileiros perderam seus grandes craques e ídolos. Com isso, é visível que o futebol nacional perdeu sua identidade, suplicando aos seus mandatários, uma reinvenção.

Apesar de tudo, até os dias atuais não são vistas grandes mudanças e surgimento de novos bons treinadores. Para vencer esse deserto de ideias, é necessário haver uma aceitação nas deficiências do futebol brasileiro, se inspirando em bons exemplos, como da Argentina.

ARGENTINA, O PAÍS DOS TÉCNICOS:

Obtendo um expressivo número de grandes técnicos, a Argentina possui cerca de 15 mil treinadores locais, sendo um dos maiores exemplos do mundo.

Primordialmente possuindo curso específico de treinadores desde 1963, a Argentina é o único país sul-americano que tem o seu certificado aceito pela UEFA. Devido à evolução dos campeonatos locais, desde 1994 só é possível assumir uma equipe da elite se o treinador obtiver a licença.

Sendo assim, o criterioso e rigoroso curso se baseia em neurociência, psicologia, gestão de recursos humanos, história do futebol, métodos de treinamento, entre outras disciplinas. Além disso, pode-se encontrar 39 escolas por todo o país. Outro recurso que merece observação, é o preço do curso, na qual é muito mais barato em relação ao do Brasil.

Mauricio Pochettino é considerado como um dos grandes técnicos da Europa (Crédito: Divulgação/ Site Oficial Tottenham)

DIFERENÇAS:

No Campeonato Brasileiro, apenas em 2019 passou a ser obrigatório o diploma para dirigir uma equipe da primeira divisão. Apesar de tudo, treinadores que não haviam terminado o curso, tiveram seu acesso permitido.

Além disso, para se tornar um técnico, é preciso ser ex-jogador ou formado em Educação Física. O curso completo da CBF pode custar ao todo, 40 mil reais, preço longe de ser o ideal para o país.

Tiago Emanuel

Jornalista em progressão e amante do futebol passional.
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