Honda, Botafogo.
Futebol, Futebol Nacional

Honda: um novo posicionamento oposto ao malabarismo

Com a volta do futebol durante a pandemia, foi possível notar mudanças no elenco do Botafogo. A principal delas é o novo posicionamento de Keisuke Honda.


Para começar o texto, é bom ressaltar que ainda é muito cedo para chegar a qualquer tipo de conclusão. Todavia, é interessante discutir o tema. Paulo Autuori foi bem ao utilizar o campeonato carioca para fazer testes diferentes. Contudo, o que mais chamou atenção foi o novo posicionamento do japonês Honda. Jogando como volante, o craque alvinegro despertou um misto de dúvidas e preocupações.

“As pessoas só veem malabarismos. Ele joga e faz jogar. Passes verticais, rompeu as linhas de marcação. Passo a passo ele vai participar muito mais. É um jogador que participa de maneira simples. Joga e faz a equipe jogar.” – Paulo Autuori em coletiva de imprensa.

Realmente, o torcedor esperava que uma estrela internacional viesse para ser uma referência que aparecesse durante todo o jogo como um protagonista. Mas é importante entender todos os contextos para enfim enxergar que Honda está sim, sendo um protagonista na equipe. E com um nível técnico acima dos demais.

Um pensador com uma visão de jogo privilegiada

Honda contra o Fluminense.
Números de Honda no clássico contra o Fluminense pela semifinal da Taça Rio.

No clássico contra o Fluminense, Honda fez uma ótima partida, sendo responsável por criar algumas das melhores chances da equipe alvinegra no jogo. Primeiro, o lançamento para Pedro Raúl, que terminou na rede pelo lado de fora. Depois, o passe vertical que quebrou as linhas do Fluminense e terminou com Bruno Nazário acertando a trave tricolor.

Atuando dessa forma, vindo de trás, sem marcação, Honda consegue ter uma visão de jogo privilegiada, assim como Cícero atuando de zagueiro. Aliás, o 3-5-2 usado pelo Botafogo na goleada contra a Cabofriense, talvez seja o melhor esquema de jogo para o elenco atual. Com dificuldades nas laterais, uma saída de bola criativa a partir de jogadores com qualidade no passe como Cícero e Honda, faz com a equipe se torne mais ofensiva e, mais do que isso, criativa, com mais possibilidades de jogo.

Uma ideia pré-concebida de forma até errônea, é a sensação de que a equipe precisa de um volante que marque forte, o famoso “cão de guarda”. Entretanto, com a evolução do futebol, isso não é mais uma necessidade. Honda por exemplo, consegue se sair até melhor do que o jovem Caio Alexandre na marcação, porém, sem precisar ficar correndo atrás do adversário. Simplesmente, fechando sua linha e fazendo interceptações de passes, como fez muito bem contra o Fluminense, o japonês ditou o ritmo do meio campo nos últimos jogos.

Além disso, também recompondo muito bem na marcação, a equipe do Botafogo vê em Honda, uma noção de posicionamento. Isso mostra que uma boa disciplina tática, pode gerar bons resultados. Cadenciando o jogo em meio a tanta correria do time, Honda mostra ao já citado Caio Alexandre por exemplo, como se portar durante o jogo.

A escolha do posicionamento passa por Honda

Honda atuando de volante.
Atuando de volante, Honda qualifica a saída de bola do Botafogo e não interfere na marcação. Aliás, consegue números defensivos melhores do que os outros jogadores.

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Como bem informou o jornalista Tiago Bontempo, especialista em futebol japonês, as olimpíadas pode ser outro motivo pela escolha de Honda como volante. Dessa vez, partindo de uma escolha do próprio, seria mais fácil para ele conseguir uma vaga na seleção olímpica, se jogar mais recuado. A concorrência como meia seria maior, já a posição de volante, até tem um bom jogador, mas é mais carente.

Portanto, como citado anteriormente, contra o Fluminense, os 6 jogadores defensivos fizeram muito bem a recomposição, entre eles, Honda. Inclusive, voltando antes de Caio Alexandre. Mas se tratando do momento ofensivo, uma coisa até engraçada acontece. Com a bola, o japonês tem liberdade para chegar de frente para o gol. Sem ela, ele acabou ficando mais marcado. Obviamente, isso tem um motivo. Os treinadores adversários perceberam o perigo de deixar o Honda pensar o jogo ali de trás.

Com um passe mais qualificado, Honda faz a bola chegar redonda para os atacantes. Distribui bem o jogo e se encaixa perfeitamente na posição testada. Inclusive, se estivesse jogando aberto pela direita, sem apoio nenhum do lateral, provavelmente já estaria sendo queimado. A princípio, parece ser uma ótima escolha. O time fica muito melhor e o japonês não perde qualidade recuado. Aliás, não é um favor que Honda está fazendo, na verdade é uma proposta dele e de Paulo Autuori. Contudo, o torcedor gosta de malabarismos e é tão saudosista a ponto de sonhar com um camisa 10 clássico em 2020. Honda como volante de fato é uma ótima proposta para esse elenco, vamos acompanhar.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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