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O Botafogo começou o jogo com 4 atacantes e conseguiu vencer o líder do campeonato com grandes variações táticas durante a partida. Paulo Autuori fez bem o que Domènec Torrent já tinha tentado.
Quando Domènec Torrent abriu mão do seu meio campo durante sua estréia pelo Flamengo, para colocar 4 atacantes contra o Atlético Mineiro, foi no mínimo curioso. Ao decorrer da partida, ele chegou a colocar 5 atacantes. Como justificativa, ele disse que o Flamengo precisa jogar para frente, buscando sempre a vitória. Entretanto, houve uma certa incoerência quando ele disse que faltava compactação na linha do meio campo, e acabou deixando apenas um jogador no setor. Observando um pouco mais friamente, o espanhol errou nas substituições e foi muito afobado, tentando mudar o resultado de forma apressada. Contudo, ele observou bem uma tendência contra o Atlético Mineiro.
Três rodadas depois, chegou a vez de Paulo Autuori usar de um artifício parecido, mas melhor elaborado. Sem muitas expectativas de vitória, a torcida do Botafogo ficou assustada quando viu que iria jogar com time misto contra o líder do campeonato. Para “piorar”, a escalação do Botafogo foi divulgada com 4 atacantes. Sem nenhum meio campo titular, Paulo Autuori mudou completamente a estratégia da equipe exclusivamente para o jogo contra o galo. Na ocasião, o treinador preferiu um jogo reativo, daqueles de deixar o coração do torcedor na boca, assim como fazia o Botafogo de Jair Ventura em 2017.
Na coletiva pós-jogo, Autuori lembrou que trabalhou com Sampaoli e sabia de alguns detalhes a serem explorados. Consequentemente, deu muito certo. Por mais que o Atlético-MG tenha criado muito mais chances, teve a mesma efetividade do Botafogo no ataque, e muito menos efetividade na defesa. A equipe carioca foi muito aplicada taticamente, entendeu rapidamente a variação tática de Autuori durante o jogo, e foi impecável na marcação. Fazendo apenas uma ressalva para Barrandeguy, lateral-direito do Botafogo, que sofreu muito contra o Keno, que fez o que quis contra o uruguaio.
Por que 4 atacantes contra o galo?
Entrando no assunto que nos trouxe até aqui, o Botafogo, diferente do Flamengo, já começou o jogo com 4 atacantes. Luiz Fernando, Pedro Raúl, Matheus Babi e Luis Henrique formaram o quarteto de ataque. Muita velocidade pelas pontas, e centroavantes mais participativos segurando o jogo pelo meio. Mas isso não tem a ver com o Botafogo em si, e sim com o adversário. Como o Atlético-MG propõe o jogo com os zagueiros mais avançados, foi da escolha de Paulo Autuori, segurar a dupla de zaga, colocando dois centroavantes no meio deles. Dessa forma, os laterais – principalmente o Guga – tiveram que buscar o jogo o tempo todo. Com isso, a saída de bola do galo demorava mais, e não era tão efetiva, pois os laterais cansavam bastante. Ou seja, Guga virou um terceiro zagueiro e o Atlético atacou com 7 jogadores. Diferente do que pretendia Sampaoli.
Como o Botafogo atuou em um sistema reativo nessa partida, esses dois centroavantes foram muito importantes na marcação. Isso porque, além deles incomodarem os zagueiros e também os volantes do Atlético, eles foram muito participativos fechando a primeira linha de marcação. O Botafogo de Paulo Autuori usa muito desse princípio no momento defensivo. Tanto Pedro Raúl, como Matheus Babi, são participativos sem a bola. Dentro daquilo que o futebol moderno pede, esses jovens achados do Botafogo, fazem muito bem. Além de técnicos e oportunistas, são aplicados taticamente. Justamente por isso, quando recebem a bola no meio, conseguem rapidamente acionar os atacantes de lado nas costas da defesa do galo, como foi no primeiro gol do Botafogo. Pedro e Babi prenderam o meio, e acionaram a joia Luis Henrique, que driblou e tocou para o outro ponta, Luiz Fernando, marcar.
É importante ressaltar, que a linha de 4 atacantes só se forma no momento ofensivo. Quando o Botafogo defende, os atacantes de lado recompõem na marcação, ajudando a segunda linha. Basicamente, o time atacou em um 4-2-4 ou 4-2-2-2, e se defendeu em um 4-4-2 clássico.
Parte defensiva e mudanças na formação
Todavia, o jogo com 4 atacantes não se resume exclusivamente neles. Para isso, Autuori corrigiu erros de jogos passados, mesmo com o meio de campo reserva. Luiz Otávio, que jogou no lugar de Honda, fez bem a cobertura de Barrandeguy, que como citado anteriormente, sofreu contra o Keno. Dessa forma, foi mais fácil da defesa do Botafogo segurar a grande sequência de ataques do galo. Por mais que o time mineiro atacava, ele não era tão efetivo quanto o Botafogo. Faltava melhores tomadas de decisão, e melhores finalizações.
Quando o Botafogo saia contra a defesa atleticana, era muito mais mortal. Pedro Raúl teve a chance de fazer 2 a 0 ainda no primeiro tempo, mas perdeu de frente para o gol e acabou sendo substituído no intervalo. Para o segundo tempo, Autuori mudou a formação e acabou ficando com apenas 3 atacantes, formando um 4-3-3. Reforçando a segunda linha, o meio campo do Botafogo ficou mais poderoso, já que no momento defensivo, atuava com 5 jogadores. Autuori que já tinha escalado o lateral Guilherme Santos como volante no primeiro tempo, colocou o zagueiro Rafael Forster também de volante no segundo tempo. A entrada de Forster e Caio Alexandre melhorou a saída de bola, explorando novamente as costas da defesa atleticana já cansada. Com isso, Guga saiu exausto do jogo, e o Botafogo, depois de ter um gol anulado, foi atrás de mais um.
Continuou dando certo. Contudo, foi preciso tirar Luis Henrique, já cansado de ligar contra-ataques. Em seu lugar, entrou Bruno Nazário, fazendo o Botafogo voltar para o 4-4-2, deixando Luiz Fernando e Babi no ataque. Entretanto, durou pouco, pois Luiz Fernando, também cansado de puxar contra-ataques, saiu para a entrada do jovem Rhuan, mudando mais uma vez para o 4-3-3. O que, na verdade, formou um 4-2-1-2-1. Caio Alexandre e Nazário ficaram mais livres e foram para o ataque. Quando Nazário tabelou com Babi, o atacante achou Caio Alexandre livre na área para marcar o gol da vitória. O Botafogo fez 3 gols explorando bem o ataque.
O que deu certo com o Autuori, que não deu certo com Torrent?
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É muito importante destacar, que não é nada fácil fazer essa quantidade de mudanças táticas no meio do jogo. Demanda treino e tempo. Torrent tentou fazer em sua estreia, com apenas cinco dias de treino. Além disso, como citado no início do texto, ele errou nas mudanças, diferente de Autuori. Como o Botafogo jogou com um time misto, Autuori pôde colocar alguns titulares no segundo tempo, botando fogo no jogo. Diferente de Torrent, ele ocupou bem a linha de meio campo, justamente o que o treinador rubro-negro reclamou no primeiro jogo, mas ele mesmo fez errado. Por mais que Autuori tenha colocado 4 atacantes, ele não desprotegeu as outras linhas, pelo contrário, ele reforçou. Ao invés disso, Torrent distanciou ainda mais suas linhas.
Certamente, o processo de treino foi diferente e mais eficaz para Paulo Autuori. Mas não podemos de forma alguma, deixar de elogiar o elenco do Botafogo, que entendeu muito rápido cada mudança do treinador durante o jogo. Inclusive, o Atlético-MG de Sampaoli é a maior referência do Brasil nesse sentido. É uma equipe que entende bem as mudanças e coloca em prática rapidamente. Todavia, dessa vez Sampaoli viu o Botafogo fazer isso de forma melhor ainda, saindo com a vitória e tirando a liderança do Atlético.
Portanto, usar 4 atacantes contra o Atlético Mineiro não é nenhuma obrigação e nem tão necessário, mas de fato ajudou durante algum tempo. É possível que isso nem se repita mais, mas é preciso destacar o que fez Paulo Autuori, e o que tentou fazer Domènec Torrent. Um venceu, o outro perdeu, mas ambos ousaram. Jogaram de forma bem diferentes, mas mostraram que não é nenhum absurdo ousar. Existe time reativo com 4 atacantes e existe time propositivo com 4 atacantes. Tudo depende do material que o clube tem, e de treino, muito treino.