Escanteio curto.
Futebol

Por que o ódio ao escanteio curto?

Daniel Dutra
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Os números não mentem. Escanteio na área é quase uma devolução de bola para o adversário. Por isso, muitas equipes preferem o escanteio curto. Cabe ao torcedor, tomado por emoção, entender isso.


“Ódio ao escanteio curto!”. Existe uma resistência grande ao escanteio curto no Brasil. Esse ódio costuma acontecer em momentos de ansiedade do torcedor, quando precisa do resultado por exemplo. Ainda assim, há aqueles que odeiam em qualquer hipótese. Entretanto, é possível entender os motivos que levam uma equipe a preferi-lo.

No livro “Os números do jogo“, foram feitos diversos estudos estatísticos. Um deles, era sobre escanteios. Quando Mourinho chegou na Inglaterra, ele não entendeu o motivo das torcidas comemorarem escanteio. Isso porque, as estatísticas mostram, que é preciso 10 jogos para marcar 1 gol a partir de um escanteio. 45 escanteios para marcar 1 gol. Apenas 20% geram finalizações, e delas, apenas 11% saem gols. Ou seja, é por isso que algumas equipes optam pelo escanteio curto. Mais de 80% dos escanteios não terminam em gol. A probabilidade de criar uma jogada de gol cobrando curto, é maior do que cruzando a bola na área com toda a defesa adversária posicionada. Além disso, cruzando direto, o risco de sofrer contra-ataque é maior. É como dar a bola para o adversário. Para técnicos como Mourinho, não se pode ignorar esses números.

Por isso, quando há repertório com jogadas ensaiadas, vale mais a pena cobrar o escanteio curto. Nem que seja para levantar a bola na área depois do primeiro passe. Um bom exemplo disso, é o lance a seguir.

“Um passo para trás para dar dois para a frente!”

O Lyon recua a bola durante uma cobrança de escanteio curto. Criando superioridade numérica.

Esse ditado cai muito bem para o lance acima. Note como o Benfica está bem organizado defensivamente. Seria difícil quebrar aquela barreira defensiva. O Lyon sai jogando curto em superioridade numérica na origem da jogada. São três jogadores do time francês, contra dois do Benfica.

Ao recuar a bola, o Lyon pega a defesa adversária no contrapé.

Ao recuar a bola, o jogador do Lyon tem mais liberdade para cruzar. Mas o que realmente acontece de diferente nesse lance, é na área. Repare o posicionamento da defesa, e do ataque. Quando a bola é recuada pelo Lyon, a defesa adversária começa a sair da área. Enquanto isso, o ataque começa a entrar em velocidade. Pegando a defesa no contrapé. Assim, os jogadores do Lyon ficarão mais livres para marcar o gol, como aconteceu nesse mesmo lance. Um simples recuo antes de levantar na área, já faz total diferença. Aumenta a probabilidade de gol.

Esse, é o lance mais simples de todos os escanteios curtos. Todavia, existem dezenas de outras possibilidades. Isso porque, com o escanteio curto, você tem a chance de criar uma jogada perto do gol adversário. De modo que, talvez, não conseguiria com a bola rolando normalmente. Além do mais, isso pode ser treinado, aumentando ainda mais as chances do time. O Chelsea por exemplo, costuma fazer gols a partir de escanteios em que sai driblando e tabelando.

Barcelona acha o gol depois de tabelar no escanteio curto.

Acima, o Barcelona usou a mesma superioridade numérica do Lyon. Dessa forma, ele desmontou a defesa adversária e tabelou até fazer o gol praticamente sem goleiro. Sempre buscando as costas da marcação.

Escanteio curto e escanteio tradicional

Marcação em linha. Crédito: Mowa Press
Crédito: Mowa Press

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Não é por um ser mais provável, que o outro deve ser abandonado. Inclusive, o escanteio na área continua sendo uma opção válida. Depende do contexto. Quando o texto diz no início, que o escanteio curto é válido com repertório ensaiado, é porque ele depende da técnica dos jogadores. Caso o time tenha dificuldade de criar uma jogada, levantar na área se torna uma opção. Contudo, deve-se tomar cuidado com o vício. Outra possibilidade de usar o escanteio na área como um ponto forte, é quando a equipe tem jogadores altos, ou uma boa jogada aérea. Ou seja, ambos são bons diante de seus diferentes contextos. Mas quando falamos sobre o futebol em geral. O escanteio tradicional não é nada eficaz.

Equipes como o Barcelona de Guardiola e até o Cruzeiro de Luxemburgo em 2003 usavam muito o escanteio curto. Portanto, podemos evidenciar que isso sempre foi trabalhado em grandes equipes. Que conquistaram títulos importantes. Um time que tem qualidade no passe, vai procurar manter a bola para criar jogadas. Infelizmente, não é o caso da grande maioria dos times brasileiros. Por isso, a cultura do jogo aéreo ainda é muito forte por aqui. O que acaba criando essa resistência ao escanteio curto. Ou até, como muitos fazem questão de dizer: “ódio ao escanteio curto”. Ainda assim, os números não mentem. O escanteio tradicional não é tão eficaz.

Daniel Dutra

Jornalista em formação e apaixonado por esportes. Juntei essas duas paixões para produzir conteúdo e valorizar a comunicação criando um portal para levar informação e gerar oportunidades.
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