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Que o futebol dos anos 1990 ficou marcado por grandes artilheiros, isso nós já sabemos. Contudo, o sucesso de um desses atacantes lhe rendeu um sonho que vem sendo realizado nos tempos atuais. George Weah hoje veste terno e gravata para cumprir a missão de ajudar seu país.
George Weah nasceu em Monróvia, na Libéria em 1966. Criado pelos avós, sempre foi um aluno aplicado. Todavia, aos 15 anos, o talento para o futebol despertou em Weah, a chance do primeiro contrato profissional. Na época, o adolescente trabalhava em uma empresa de telecomunicações. Porém, com o sonho sendo oferecido, ele conciliou bem as coisas. Enquanto ainda trabalhava, Weah marcou sete gols em dez jogos pelo Young Survivors Clareton. O que acabou lhe rendendo novas propostas. O garoto passou pelo Invincible Eleven, Africa Sports, e Tonnerre Yaoundé, de Camarões.
Além de conciliar trabalho e futebol, Weah estudava. Foi aluno do Congresso Muçulmano. Contudo, mudanças de país fizeram ele abandonar os estudos no último ano. Felizmente, essa escolha gerou resultados. Em 1988, a primeira mudança impactante em sua vida. Na ocasião, Weah estava sendo observado por olheiros franceses. Não demorou muito, para ser convidado. Arsène Wenger, então técnico do Monaco, campeão francês, pediu a contratação do atacante. George Weah logo repetiu o sucesso que fez no continente africano. Mas o sucesso na França foi tanto, que ele trocou o Monaco pelo PSG doss brasileiros Raí e Ricardo Gomes.
Novamente, um grande sucesso. O menino africano deixou de ser destaque em seus clubes para se tornar destaque mundial. Em 1995, trocou o PSG pelo Milan da Itália. Foi então, nesse mesmo ano, que se tornou o melhor jogador do mundo. Pela primeira vez, um africano recebeu o maior prêmio individual do futebol. Aliás, é o único até hoje.
Do futebol para a política
Melhor jogador do mundo em 1995, George Weah foi, sem dúvidas, um atacante fenomenal. Na visão de outros craques, como Thienry Henry, Weah foi o melhor goleador que viu jogar. Entretanto, nem só de gols viveu o africano. Nascido em um país onde a população sobrevive com menos de R$ 6 por dia, era preciso fazer mais. Weah entendeu que o “privilégio” conquistado com seu talento, poderia ajudar seu país. Por muito tempo, foi a maior liderança popular da Libéria fora da política. Mas para ele, era preciso ser mais do que uma figura representativa.
Em 2005, Weah começou sua jornada na política local. Entretanto, tentou ser presidente logo de cara, o que não conseguiu. Depois, participou das eleições de 2011 como candidato a vice-presidente. De novo, sem sucesso. Todavia, Weah continuou na disputa, mas para isso, recuou um pouco nos cargos. Em 2014, foi eleito para o Senado da Libéria pelo condado de Montserrado. Daí em diante, ganhou força para novas disputas. Foi então em 2017, que George Weah venceu as eleições para presidente da Libéria.
“Eu quero ver mudança no meu país, porque eu já vivi aqui antes e não é o único jeito que se pode viver. Portanto, todos têm direito a um hospital, a possivelmente enriquecer, ter acesso à educação. Ou seja, essa luta pela igualdade é um dos motivos pelo qual estou na política, para tentar mudar o cenário atual.” – George Weah em entrevista à FIFA.
O presidente George Weah
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O cenário citado por Weah é bem complicado. Quando assumiu a Libéria, o país vivia uma grande crise econômica. Crise na qual ainda não se livrou. Por isso, algumas críticas quanto ao seu trabalho. Muitos acham que ele precisa de tempo, outros, dizem que ele não está preparado para ser político. Mas para quem viveu dentro de um esporte de resultados, Weah sabe bem como lidar com a pressão. Da mesma forma que torcedores são imediatistas, populações também são. Inclusive, nós, brasileiros, somos um grande exemplo de imediatistas. Normal para quem tentou viver 50 anos em 5.
Emergência Nacional contra o Estupro
Contudo, algumas lutas importantes estão sendo desbravadas. Os países africanos convivem com grandes taxas de estupros. E a Libéria faz parte dessa estatística. Apenas 2% dos casos de estupro no país, levam a uma condenação. Por isso, o governo de George Weah declarou que vai criar uma força tarefa de segurança nacional sobre violência sexual de gênero: #RAPENATIONALEMERGENCY (#ESTUPROEMERGENCIANACIONAL). Desde então, essa hastag (#) é uma das mais utilizadas em todo o continente africano.
Coronavírus
Outro combate recente de George Weah, diz respeito ao novo coronavírus. De uma forma diferente, o presidente da Libéria convidou sua população a se levantar de todas as formas contra esse vírus. Ele escreveu e gravou uma música sobre o tema com a banda “The Rabbi’s”. Em ritmo de reggae, Weah canta:
“Pode ser sua mãe, pode ser seu pai, seus irmãos ou irmãs; Vamos todos nos unir para lutar contra este vírus sujo;” – diz um trecho da música.
Humanitarismo
Por ser um país fundado por escravos libertos dos EUA no século XIX, a Libéria possui um histórico de guerras civis. Além disso, como já foi mencionado, é um dos países mais pobres do mundo. Ou seja, ter paz não é um privilégio de sua população. Portanto, sempre foi necessário levantar uma bandeira humanista. Ainda durante a carreira de jogador, Weah tornou-se Embaixador da Boa Vontade da ONU e da UNICEF. Além disso, ganhou outros prêmios por seus esforços, como o “Arthur Ashe Courage Award”.
Dessa forma, Weah apoiou recentemente, uma constituição de um tribunal para julgar os crimes de guerra cometidos durante o conflito que abalou a Libéria entre 1989-96 e 1999-2003.
O futebol como inclusão social
Os dotes musicais utilizados contra o coronavírus não é uma novidade. Em 1998, Weah lançou um CD completo com o cantor Frisbie Omo Isibor e mais oito estrelas do futebol africano. O CD se chama “Lively Up Africa” e promove a educação das crianças na Libéria, a partir do futebol. Antes disso, ele fundou em 1994, o “Junior Professionals”, um ex-time de futebol como forma de incentivar jovens a permanecerem na escola. Era obrigado a estudar para fazer parte da equipe. Esse projeto gerou resultados. Tanto, que alguns jovens se tornaram profissionais e foram convocados para a seleção principal.
Entretanto, com o fim desse projeto, Weah decidiu participar de um novo em 2016. O anúncio foi feito pelo empresário indiano Nirav Tripathi. Por meio de academias globais de futebol, estabeleceram ajuda para jovens em países pobres e emergentes.
Portanto, hoje o menino criado pelos avós veste terno e gravata. A partir do futebol, tornou-se presidente. Algo completamente inimaginável para um dos povos mais pobres do planeta. Entretanto, uma realidade para George Weah, o primeiro africano a se tornar o melhor jogador do mundo.
“O jogador de futebol que vai se transformar numa liderança popular, numa figura representativa da população.” – diz Serge Katembera, sociólogo congolês, doutorando na UFPB.
De fato, Weah é uma grande representatividade para a Libéria. Aos 54 anos, o ex-melhor do mundo tenta oferecer uma vida melhor para sua população. Mas como sabemos, é uma tarefa árdua. Todavia, nada impossível. Enquanto tiver oportunidade, Weah desafia a pobreza. Mesmo depois de rico.