- Torcedoras do Irã assistem jogo de futebol após 40 anos - 10 de setembro de 2022
- Novidades na Copa América Feminina 2022 - 11 de abril de 2022
- Parceria entre Flamengo e Mercado Livre dá início ao projeto “Elas Jogam” - 20 de março de 2022
O departamento de Futebol Feminino é, muitas vezes, considerado culpado pelos altos gastos dos clubes brasileiros. Mesmo isso não sendo verdade em nenhuma instituição, é uma ideia pertinente e existe uma solução que agradaria a todos: transformar as organizações atuais em Clubes-Empresa.
Um dos “argumentos” mais utilizados por aqueles que torcem contra a existência da profissão de mulheres que jogam futebol, é o de que essa modalidade não resulta em lucro nenhum aos clubes. Alguns vão mais longe ainda e alegam que os gastos com a categoria são os responsáveis pelo endividamento astronômico presente nas agremiações. Declaração absurdamente irreal.
Contudo, há um exemplo recente de como essa mentalidade tem muita força no Brasil e é capaz de extinguir uma equipe de Futebol Feminino (FF).
Goiás e o fim do Futebol Feminino
Em resumo, o Goiás Esporte Clube tomou a decisão de não disputar mais a Série A2 do Campeonato Brasileiro do ano de 2021. Além disso, comunicou que encerrará as atividades da categoria ao final do contrato das jogadoras, em junho. O Verdão não é mais obrigado a investir na modalidade, já que foi rebaixado para a Série B do Brasileirão e não tem chance de participar da Copa Libertadores da América.
O clube goiano justificou o fim das atividades citando que visa uma contenção de despesas em meio à crise financeira que este vive. Assim, a prioridade no momento é conseguir retornar à primeira divisão.
Leia mais:
A solução existe e é viável
Atualmente, grande parte dos clubes brasileiros são associações civis sem fins lucrativos. Então, não há um responsável financeiro caso as contas fechem no vermelho ao final da temporada. Pensando nisso, o Deputado Federal Pedro Paulo (DEM-RJ) tomou frente do Projeto de Lei (PL nº 68/17). Este permite com que os times brasileiros de futebol se transformem em Clubes-Empresa, visando o lucro a partir dos esportes.
O chamado Simples-Fut, aprovado em 27 de novembro de 2019, possui aspectos que são altamente atrativos aos investidores. Com ele, a agremiação destina 5% da sua receita bruta para liquidar três tributos de uma só vez: o Imposto de Renda (o qual as empresas tributam 25%), a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (9% para as demais organizações) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (3%). Além disso, as equipes podem parcelar seus débitos tributários (ou não) em até 150 meses, com redução de 70% das multas, 40% dos juros e 100% dos encargos legais.
No entanto, o percentual de 5% da arrecadação pode ser reduzido em 1%. Isso acontece caso haja incentivo à formação de categorias de base do futebol feminino e também ao esporte em comunidades carentes. Desse modo, pode-se considerar um progresso enquanto levantamentos apontam que os times pertencentes à elite do futebol investem menos de 1% de sua receita na modalidade.
Um destes exemplos é o do Flamengo, que investiu apenas 1 milhão de reais no FF dos 752 declarados em 2019, significando a apenas 0,13% da receita. Valor que correspondia ao salário mensal do atacante Gabriel Barbosa na época.
Clubes-Empresa resolvem os dois problemas de uma só vez
Além disso, outra característica importante da PL é a regularização do trabalho do atleta profissional, dentre eles mulheres e menores de idade (art. 84). Nesse sentido, a medida traz garantias jurídicas às atletas e ameniza as dificuldades enfrentadas. Já que em muitos casos não há recebimento de seus vencimentos ou, quando recebem, são valores parciais, inferiores ao que havia sido inicialmente acordado, situação recorrente principalmente em clubes de menor expressão. De tal forma que, até 2020, apenas 15 equipes que disputavam o Campeonato Brasileiro nas Séries A1 e A2 tinham registro profissional (total ou parcial) de suas jogadoras.
Sob esse ponto de vista, alguns departamentos funcionam em parceria com outras instituições e não pagam salários à maioria das atletas. Outros ainda trabalham com bolsa-auxílio das prefeituras.
Dessa forma, a possibilidade de transformação para o modelo de Clubes-Empresa no Brasil se faz muito importante devido o grande potencial existente e também pela questão da desvalorização atual do real. Estes dois fatores são relevantes a investidores estrangeiros que buscam aplicar seu dinheiro aqui. A modernização que ocorre ao transformar a agremiação em Sociedade Anônima se configura como uma alavanca para a profissionalização da indústria futebolística.
No país onde o Futebol Feminino é quase uma “novidade” – se levados em conta os 42 anos da proibição da prática do esporte pelas mulheres e o tempo passado até este ser regularizado – qualquer medida tomada por quem está à frente do desporto no Brasil que procure incentivar a classe, como a adoção de Clubes-Empresa, deve ser considerada um avanço. Obviamente, dando o merecido destaque aos responsáveis. Ninguém nunca está fazendo “demais” pela categoria.