Bruno Pivetti, assistente técnico e coordenador de formação do Vitória. Letícia Martins/EC Vitória
Futebol, Futebol Nacional

Análise: O que esperar do Vitória de Bruno Pivetti?

Daniel Dutra
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Expectativas foram criadas para ver as ideias de Bruno Pivetti em campo. Entretanto, com a eliminação no Campeonato Baiano, a torcida começa a pegar no pé do novo treinador. Entre o conhecimento teórico-prático, e os resultados a curto prazo, o que podemos esperar do Vitória de Bruno Pivetti nas próximas competições?


Depois da demissão do técnico Geninho, o Vitória anunciou Bruno Pivetti como substituto. Bruno já trabalhava no clube e recebeu a efetivação pelo bom trabalho em duas frentes diferentes. Trabalhando como um transacionista entre as categorias de base e a equipe profissional, o professor foi se destacando aos poucos, até, no início desse ano, ganhar de vez o carinho da torcida do Vitória.

Bruno Pivetti foi contratado pelo Vitória em 2019 para exercer duas funções no clube baiano. A primeira função era a de Assistente Técnico da Categoria Profissional. A segunda, era a de Coordenador Técnico das Categorias de Formação. A ideia do Presidente Paulo Carneiro era implementar uma diretriz comum a todas as esferas do clube. O que de fato vinha acontecendo. Inclusive, Pivetti chegou a atuar no Departamento de Mercado auxiliando no processo de contratação de jogadores para o Vitória (que agregassem ao Modelo de Jogo).

Agora, a função de Bruno Pivetti passa a ser a de técnico do time profissional. Para substitui-lo como auxiliar permanente, o clube colocou o ex-zagueiro Flávio Tanajura em seu lugar.

Os primeiros passos e as críticas

Logo nas primeiras partidas de Bruno Pivetti, foi possível notar uma mudança na metodologia, que passou a priorizar a posse de bola e potencializar os toques rápidos dos jovens atletas da equipe. Todavia, a preparação física da equipe se mostrou um pouco abaixo do ideal para manter esse estilo durante os noventa minutos.

Infelizmente, como bem sabemos, o futebol brasileiro é feito de resultados imediatos, e o Vitória, invicto no campeonato baiano, acabou não se classificando. Mas para analisar o trabalho de Pivetti, é importante entender alguns fatores em diferentes contextos. O primeiro e já citado, é a falta de ritmo da equipe, como a maioria que voltou da paralisação do futebol. O segundo, é a mudança de metodologia, que inclusive, teve pouco tempo para ser trabalhada. Mesmo com todo esse tempo parado, o Vitória só efetivou Pivetti em junho. Por mais que tenha tido um bom espaço para treinos, mudanças metodológicas não são tão fáceis de encaixar assim.

Primeiras impressões

O Vitória de Bruno Pivetti.

A imagem acima mostra as combinações de passes da equipe do Vitória, levando em consideração apenas combinações com mais do que 3 passes em uma direção. É interessante destacar as divisões do campo, para mostrar a compactação do time. Veja que a maior parte dos passes foram realizados no meio de campo. É verdade que isso é algo completamente comum, contudo, se compararmos a faixa defensiva, que também costuma ser um ponto forte de armação, pouco se viu movimentação por ali. O Vitória vem se portando de maneira mais ofensiva, buscando sempre o campo do adversário e tentando trabalhar a bola. A aproximação das linhas da equipe foi tão grande, que os zagueiros se posicionaram na faixa do meio de campo, restando apenas o goleiro na faixa da defesa, e o centroavante na faixa de ataque. A imagem a seguir, sem a troca de passes, confirma esse posicionamento da equipe.

O Vitória de Bruno Pivetti.

Há inclusive uma amplitude dos laterais, que saem para o jogo de forma organizada. Enquanto o lateral-esquerdo sobe mais, o lateral-direito guarda um limite até o fim do próprio campo. Todavia, paro por aqui, pois como citado no início, nenhuma análise atual do Vitória de Bruno Pivetti, será suficiente para destrinchar o trabalho do treinador. Isso porque, ainda não há nem o que analisar ainda. Tudo é muito recente. Por isso, usaremos da parte teórica, para apresentar um pouco do novo técnico do Vitória.

O Vitória de Bruno Pivetti

Leia nossa entrevista com Bruno Pivetti:

Parte 1 – Bruno Pivetti: teoria e prática para o bom desempenho no futebol

Parte 2 – Bruno Pivetti: a importância da periodização tática na volta do futebol

A expectativa, seguindo os passos do que tem sido feito desde as categorias de base, é que o Vitória de Bruno Pivetti jogue de forma posicional. Conforme citado anteriormente, os laterais deram amplitude para equipe no destaque que fizemos. Isso acontece por uma questão de dar, além de uma amplitude, uma profundidade ofensiva. Dessa forma, é possível fazer triangulações no ataque com o portador da bola. Por isso, vimos um time compactado a partir do meio de campo. Isso gera uma variabilidade tanto no ataque, como no meio de campo.

Outro ponto que vem sendo feito e continuará sendo aplicado, é a marcação por zona, que explicamos em outra matéria (clique aqui para ler). Quanto a isso é extremamente normal, pois é a forma de marcação mais usada no mundo. Além disso, a organização defensiva do Vitória, já era elogiada por Pivetti no trabalho de Geninho. A ideia é utilizar a marcação por zona, entretanto, sem abrir mão do “pressing“.

Uma viagem pelos conceitos de jogo pretendidos

Pressing

A marcação por zona acontece a partir do momento defensivo, contudo, Pivetti tem a intenção de trabalhar a recuperação da posse de bola, ainda na transição, antes de acontecer esse momento. Para isso, ele pretende aplicar o conceito de pressing como forma de recuperar a bola, o mais rápido possível, como faz o Atletico de Madrid, por exemplo. Michels (1981) define pressing como:

A forma de trabalhar esse conceito nos treinamentos, será usada como exemplo no parágrafo sobre periodização tática, que ocorrerá ao longo desse artigo. Ela será de extrema importância para que cada conceito do Modelo de Jogo estabelecido por Pivetti, possa gerar resultados práticos.

Equilíbrio

De acordo com o que é conhecido de Bruno Pivetti, a tendência é que o Vitória se porte de forma a explorar a largura do campo também no momento em que começa as jogadas. A circulação da bola deve acontecer com menos entusiasmo, ainda que nesses primeiros jogos, tenha acontecido uma ansiedade natural por parte dos jovens atletas. Mas o equilíbrio começa na saída de bola, quando acontece uma alternância entre saídas curtas e longas. Mesmo com ideias bem definidas, Pivetti já se mostrou aberto a mudanças em seu modelo de jogo caso seja necessário.

Quem é Bruno Pivetti?

Bruno Pivetti é formado em fisiologia e preparação física com graduação e iniciação científica na EEFE-USP, e graduação em Fisiologia do Exercício na UNIFESP. Além da questão física e fisiológica, Pivetti possui MBA em Gestão em Marketing Esportivo, pela TREVISAN, Escola de Negócios. A partir do estudo, Pivetti pôde conhecer diferentes escolas do futebol mundial. Primeiro, ganhou a oportunidade de estudar em Portugal e estagiar no Porto, onde começou a se envolver mais com a periodização tática. Mais recentemente, o treinador trabalhou no Ludogorets da Bulgária. Além é claro, de ter trabalhado no Brasil por equipes como o Athletico Paranaense e por diversas divisões nacionais e estaduais.

Essa abrangência de escolas gerou até certificações um pouco diferentes. A licença de treinador foi retirada no curso da ATFA (Argentina), pois ele queria acesso à escola argentina de futebol. Depois, homologou esta licença na CONMEBOL.

Falar de Bruno Pivetti sem citar o conceito de periodização tática é um pouco difícil. Isso porque o treinador é autor de um dos livros mais importantes sobre o tema no Brasil. Desde a época de faculdade, Pivetti já tinha se encantado pelo tema e resolveu se aprofundar nele, importando esse conceito para o Brasil.

Periodização Tática

Bruno Pivetti é autor do livro "Periodização Tática: o Futebol-Arte Alicerçado em Critérios".
Bruno Pivetti é autor do livro “Periodização Tática: o Futebol-Arte Alicerçado em Critérios”.

Soa de certa forma leviano tentar explicar o conceito de periodização tática de forma resumida em uma matéria. Contudo, um pouco de introdução e uma demonstração do autor de um dos melhores livros sobre o tema pode ajudar. Antes de tudo, é preciso saber que a periodização tática é uma metodologia de treino, que tem como intenção, a preparação e recuperação da equipe antes e depois dos jogos. Essa metodologia foi criada por Vítor Frade, reconhecido treinador português, e popularizada no Brasil, pelo próprio Bruno Pivetti, que após trabalhar no Porto, escreveu um livro sobre o tema.

Em entrevista para a PressFut, Bruno Pivetti resumiu o tema e mostrou a importância da PT na volta aos jogos.

“A Periodização Tática é uma metodologia de treino que visa operacionalizar as Ideias do treinador em um processo de ensino-aprendizagem em que tudo é desenvolvido em acordo com o Modelo de Jogo pretendido. Os exercícios de treino são desenvolvidos para aprimorar os princípios que compõe o Modelo de Jogo. O que se busca é uma repetição sistemática daquilo que se pretende para que os jogadores incorporem estes conteúdos em forma de hábito.” – Pivetti para a PressFut.

É importante destacar quando ele fala sobre o Modelo de Jogo. A periodização tática traz uma nova visão para o modelo de jogo, e não é possível pensar nela, sem pensar nesse modelo. Dessa forma, se você quer que os jogadores pressionem a bola após perder a posse dela por exemplo, você cria um exercício em que esta situação apareça repetidamente.

Como diz Vítor Frade: “os jogadores são livres para agir, mas não podem agir livremente”.

Estruturando os problemas do Vitória a partir da periodização

Nessa mesma entrevista, Pivetti continuou definindo a periodização a partir de outros aspectos. Como citado anteriormente, físico e tempo são fatores que interferem diretamente no trabalho do treinador. Por isso, a utilização da periodização é importante a todo momento.

“A Periodização Tática também garante em sua concepção que os jogadores estejam nas máximas condições de rendimento quando chega o momento do jogo. Já que o processo de treino os permite estarem bem preparados em acordo com o Modelo de Jogo, com a dinâmica estratégica pretendida pela equipe, e também com as vertentes físicas, técnicas e psicológicas que são desenvolvidas em arraste durante os diferentes dias da semana.” – Pivetti para a PressFut.

Isso é algo que ajuda a driblar o complicado calendário brasileiro, principalmente nesse momento de pandemia. É nesse momento que entra o “Morfociclo padrão”, que você pode assistir no vídeo abaixo.

“Por meio da constituição do ciclo de treino na Periodização Tática, chamado Morfociclo Padrão, conseguimos uma organização da semana de maneira que seja respeitado ao máximo o binômio desempenho/recuperação. Isto garante com que os jogadores cheguem aos jogos em seu nível ótimo de rendimento.” – Pivetti para a PressFut.

Pretensões da diretoria

Paulo Carneiro viu que a metodologia iniciada no ano passado, ganhava corpo com treinos de Pivetti enquanto ele ainda era auxiliar. Com a pandemia do novo coronavírus, foi preciso, segundo ele, cortar alguns gastos, como o técnico Geninho. Bruno Pivetti se encaixou perfeitamente naquilo que Paulo queria. Alguém que esteja habituado a pressão da torcida por resultados, e que tenha noção sobre as categorias da base da equipe.

Isso porque, com essa dificuldade financeira, o Vitória aposta em sua categoria de base para forma um elenco principal. A ideia pode ter sérias dificuldades no início, pois não é algo que acontece da noite para o dia, é um processo a longo prazo. Entre as ideias do clube estão:

A promoção de Bruno Pivetti

Periodização tática: técnico Bruno Pivetti. Crédito: Gustavo Oliveira
Crédito: Gustavo Oliveira

Quando Geninho se ausentou na pré-temporada por questões de saúde, Pivetti e Tanajura assumiram os treinos e até um jogo da equipe, vencido por 2 a 0 contra o Bahia de Feira. A automatização de Bruno Pivetti nos treinos dava indícios que, caso precisasse, o treinador estaria pronto para assumir a equipe. Esse momento chegou. Com ele, mudanças aconteceram. Por mais que houvesse um respeito mútuo entre Geninho e Bruno Pivetti, as ideias de jogos são diferentes em alguns aspectos.

“Se ele quiser, sim. Acho que ele tem toda condição. Não sei se é essa a vontade dele, se é isso que ele quer alcançar, mas ele é um profissional altamente capacitado e está pronto para isso.” – Geninho sobre Pivetti substituí-lo.

De fato, Pivetti tinha totais condições de assumir o clube. Todavia, é importante respeitar o próximo passo, que é criar uma sequência mínima de jogos, para que uma experiência seja vivida através de uma repetição, como uma boa periodização tática. Seu contrato vai até o final do ano, e é importante respeita-lo. Na entrevista concedida para a PressFut, Pivetti confirmava essa expectativa de assumir como técnico principal.

“Trabalho por isto diariamente e creio que acontecerá naturalmente pela dedicação com que venho me preparando para exercer esta função.” – Bruno Pivetti para a PressFut.

Portanto, cabe acompanharmos o decorrer da temporada para aí sim, fazermos algum juízo de valor. Bruno Pivetti tem boas ideias, bons conceitos e grandes experiências. Todavia, resta agora criar um corpo como técnico profissional de forma a entender melhor a nova função, que mesmo sendo uma formação antiga, está sendo exercida de forma profissional pela primeira vez a frente de um clube como o Vitória.

Daniel Dutra

Jornalista em formação e apaixonado por esportes. Juntei essas duas paixões para produzir conteúdo e valorizar a comunicação criando um portal para levar informação e gerar oportunidades.
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