Paulo Henrique Ganso pelo Sevilla. Créditos: Aitor Alcalde Colomer/Getty
Futebol, Futebol Internacional, Futebol Nacional

Nossas joias estão preparadas para o futebol de alto rendimento?

Não é segredo para ninguém que o futebol europeu está muito acima do futebol brasileiro e isso fica evidente quando as equipes se enfrentam. Mas semanalmente temos amostras dessa disparidade, principalmente ao ver nossas joias tendo dificuldades para jogar na Europa. Será que nossos atletas de base estão preparados para o futebol de alto rendimento?


O futebol brasileiro sempre foi um ninho de jovens talentosos. Somos o maior exportador de jogadores do mundo. Estamos vendo nossos atletas saindo do país cada vez mais cedo e com altas expectativas. Alguns se dão bem, uns demoram a se adaptar e outros infelizmente não dão certo.

Isso acontece por diversos motivos, inclusive, já falamos sobre o lado político-cultural do futebol que atrapalha a carreira de atletas, que você pode ler clicando aqui. Mas dessa vez, vamos falar do próprio futebol. Mais precisamente, da preparação de um atleta, ainda na base.

A cultura do futebol brasileiro é uma das que mais demoraram a evoluir. Isso nos deixou extremamente atrasados diante do mundo do futebol. Demoramos a nos integrar com a tecnologia e também a entender as novas necessidades técnico-táticas.

Grande parte dos torcedores ainda não entendem que um zagueiro no futebol atual precisa construir jogadas, e não apenas destruir. Mas pior que isso, é a própria preparação dos jovens, que em boa parte, ainda mantém esses tipos de estereótipos ultrapassados.

Martineli se preparou para o futebol de alto rendimento.Crédito: Stuart MacFarlane/Arsenal FC
Gabriel Martineli é um ponto fora da curva. Crédito: Stuart MacFarlane/Arsenal FC

Além das dificuldades técnicas, percebemos também as dificuldades físicas dos jovens atletas ao chegarem nas principais ligas do futebol mundial. Normalmente, precisam ser emprestados para clubes menores para se adaptarem. Entretanto, nem sempre isso acontece e a cobrança em cima deles dificultam ainda mais seus desempenhos.

Para nossa alegria, nas últimas temporadas alguns jogadores brasileiros começaram a se destacar na Inglaterra, a liga mais intensa do mundo. Entre esses destaques, um chamou a atenção: Gabriel Martineli, jogador que saiu do modesto Ituano, do interior de São Paulo para o Arsenal, da capital inglesa.

Gabriel surpreendeu ao chegar fazendo gols e assistências, jogando como um veterano. Seu preparo físico é claramente superior aos demais jovens brasileiros que chegam na Europa.

A diferença está justamente em sua preparação, lá na base. Ele foi moldado pra jogar na Europa. Seus treinamentos foram mais focados no aspecto físico, algo muito raro no Brasil. É realmente difícil imaginar uma equipe brasileira preparar um atleta dessa forma. Além disso, ele teve períodos de treinamentos no Manchester United e no Barcelona, justamente para ser desenvolvido como um atleta do alto nível europeu. Ao participar de um podcast britânico, Natalie Gedra, repórter da ESPN Brasil, explicou essa questão.

Eu descobri isso conversando com ele e sua equipe. Ele teve períodos de treinamento no Manchester United e Barcelona, para que ele pudesse ser esse [tipo de] jogador. Quando ele completou 18 anos, veio para a Europa e parece muito mais preparado do que a maioria dos jogadores brasileiros estaria nessa idade.

Ele não é um jogador particularmente craque, mas está lidando muito bem com a “fisicalidade” da Premier League e com a mentalidade.

Ele vai ser um jogador muito bom. Eu realmente tenho fé nele, e não apenas eu, mas o próprio companheiro de time, Aubameyang, disse isso.”

Hoje, Martineli já faz parte da seleção de base do Brasil, mas há a preocupação quanto a seleção principal, que ainda não convocou ele e tem a chance de perdê-lo para a seleção italiana, pois ele possui dupla nacionalidade e chama a atenção do país europeu.

Sabemos que o futebol evoluiu e a tecnologia também. Desde a análise de desempenho, que comentamos aqui, até os próprios treinamentos. Por sermos conhecidos pela ginga, se valorizou por anos a individualidade no Brasil, mas agora, precisamos aprender a valorizar outros atributos, principalmente o jogo coletivo, pouco ensinado nas escolinhas.

É importante discutir o currículo da formação dos jovens no Brasil. Desde a inicialização até as categorias de base. Faltam estruturas que os preparem para o futebol de alto rendimento.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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