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Comemoramos no dia de hoje, 20 de novembro, o dia nacional da consciência negra. Ainda que em uma sociedade fortemente desigual e racista, podemos ver o surgimento de diversos movimentos reivindicatórios para progredirmos como uma sociedade mais equidosa através de lutas por direitos civis e políticos aos negros e outras minorias. Entretanto, ainda estamos muito longe de mudar o panorama de nossa sociedade com uma estrutura social fortemente racista. Veremos a seguir como o âmbito esportivo têm poder de impacto nessas questões raciais que nos norteiam ao conseguir representatividade negra.
Pode parecer uma questão inofensiva, mas você já se perguntou o porquê de negros serem retratados em maioria como subordinados, irrelevantes ou até mesmo como criminosos em filmes, séries e telenovelas? Ou então, o porquê negros e pardos são minoria entre deputados federais do Brasil (apenas 24,4%) mesmo sendo maioria em meio a população brasileira (55,9%)? A questão da desigualdade racial é transmitida tanto em meios de representatividade — como em objetos de entretenimento —, como em meios de poder em nossa sociedade — como acontece na câmara de deputados federais.
Negros no topo
O esporte têm um impacto relevante para que haja uma mudança representativa, já que o esporte pode consagrar certos atletas como verdadeiros heróis, através de seus feitos esportivos. Felizmente, a posição de destaque referencial em diversos esportes está sobre negros. Temos: Michael Jordan e Lebron James no Basquete, Pelé no Futebol, Muhammad Ali no Boxe, Lewis Hamilton no automobilismo, Usain Bolt no atletismo e diversos outros negros que ganharam notoriedade com seus desempenhos esportivos.
Só o fato de termos negros ganhando notoriedade dentro dos esportes já significa uma vitória para o fortalecimento do orgulho negro e para combate a estratégias de “branqueamento” instaurados, principalmente, na sociedade ocidental. É perceptível como alguns traços estéticos do povo negro ainda são considerados como inadequados em entrevistas de emprego e como a capacidade intelectual de negros são rotineiramente questionadas, por exemplo. Tendo negros em posições referenciais positivas, seja no esporte ou em outra área, esses preconceitos acabam perdendo seus sentidos — que sempre foram enganosos.
Em uma entrevista para a BBC em 1971, um dos maiores defensores dos direitos do povo negro dentro do esporte e maior boxeador da história, Muhammad Ali deu o seguinte depoimento ao falar sobre como ele pensava a representatividade negra:
“Por que Jesus é branco de olhos azuis? Por que na última ceia todos são brancos? Eu disse, ‘Mamãe, quando morrermos, nós vamos para o céu?’ Ela disse: ‘Claro’. Eu disse: ‘Então o que aconteceu com os anjos negros?’”
Ainda que determinado indivíduo negro não se identifique com certo esporte, esse indivíduo terá alguém etnicamente semelhante para prestigiar ao vê-lo triunfando no esporte. O caso de Lewis Hamilton é excelente para demonstrar como a presença de um negro no esporte é relevante para alcançarmos a representatividade negra em grandes postos. Antes de Lewis Hamilton estrear na Fórmula 1 em 2007, nenhum negro havia disputado corridas na Fórmula 1. Hamilton não é apenas um pioneiro. Mas também um protagonista, sendo recordista de vitórias e maior campeão da categoria ao lado de Schumacher — podendo superar o alemão que já está aposentado.
Poder negro
Hamilton têm um posicionamento representativo que vai muito além de feitos desportivos. O piloto britânico arriscou seus vínculos com patrocinadores e fez a diferença na Formula 1 ao adotar protestos do movimento “Black Lives Matter” com outros pilotos. Além de fazer diversos protestos distintos contra a violência policial contra negros pelo mundo. Mesmo com a organização da Fórmula 1 proibindo o uso de camisas no pódio, após Lewis usar essas camisas com mensagens antirracistas, o piloto continuou mostrando essas camisas em outros momentos e falando sobre cada caso ao qual ele protestava. Vale destacar também que a Mercedes, equipe de Hamilton e Bottas, mudou a cor de seu carro para preto como forma de protesto.
Lebron James é outro gigante dos esportes que também está utilizando sua representatividade para impulsionar movimentos antirracistas e para incentivar os cidadãos americanos a votarem (nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório). Junto a NBA, Lebron James têm feito o uso de camisas que reivindicam o modo como os negros são tratados na sociedade, mas o astro das quadras de basquete vai além e faz discursos antirracistas constantemente. A fim de aprimorar o poder democrático de seu país, Lebron também impulsionou fortemente a campanha “More Than a Vote” (mais que um voto) em discursos nas redes sociais e em suas entrevistas.
Se vale de extrema importância o ativismo de Lebron e Hamilton, pois são nessas situações que a representatividade negra gera o poder negro, visto que as reivindicações feitas pelos atletas geraram uma comoção contra supressões direcionada às minorias. Os questionamentos feitos por esses ídolos são essenciais para o avanço da causa antirracista, pois afastam a normalidade com que a sociedade lida com acontecimentos e narrativas racistas.