Senhor Waldemar Lemos, ex-técnico do Flamengo.
Futebol, Futebol Nacional

“Waldemar é o c@#@lh0!”: A história entre Waldemar Lemos e Flamengo

Um dos memes futebolísticos mais emblemáticos da internet brasileira, é o do senhor Waldemar. Efetivado pelo Flamengo em 2003, o treinador enfrentou grande resistência dos rubro-negros. Contudo, se saiu bem no comando da equipe.


“Waldemar é o c…, p…! Vai tomar no c…! Waldemar é a p… que o pariu!”, gritaram os torcedores do flamengo presentes na apresentação do novo técnico, em 2003. Após uma campanha ruim no Campeonato Brasileiro, Oswaldo de Oliveira foi demitido do Flamengo. Para seu lugar, a diretoria rubro-negra efetivou Waldemar Lemos, irmão do treinador. Entretanto, como vimos, a recepção não foi nada boa. Ao anunciar o “senhor Waldemar”, a torcida xingou. Aproveitando o momento, Cícero Melo, repórter da ESPN, perguntou a Eduardo Moraes, dirigente do Flamengo: “E por que o Waldemar, hein?”

Meio sem jeito, o dirigente conhecido como “vassourinha”, gaguejou. “A gente tem que pensar no melhor para o Flamengo, achamos que a torcida é muito importante. São 10 jogos, e o Waldemar é uma pessoa de confiança”, explicou. Todavia, ele não convenceu. Durante a apresentação, a torcida continuou protestando: “Ah, ah, ah, fora, Waldemar! Ah, ah, ah, fora, Waldemar!”. Ou seja, antes mesmo de trabalhar, Waldemar Lemos já sofria perseguição da torcida. Mas porque toda essa rejeição?

Waldemar Lemos e o começo de sua história com o Flamengo

A rejeição da torcida tinha um motivo simples. Como o Flamengo vivia uma fase ruim, os torcedores esperavam a contratação de um técnico renomado, que pudesse substituir Oswaldo de Oliveira e colocar o time de volta nos trilhos. Contudo, Waldemar Lemos era um técnico sem nenhuma passagem por time grande. Ficou conhecido treinado equipes pequenas do futebol carioca, a equipe B do Fluminense e seleções de base. Além da experiência em clubes pequenos, era auxiliar do irmão Oswaldo de Oliveira.

“A torcida não me aceitava, porque queria um nome expressivo. Houve muita reclamação, porque eu nunca tinha sido treinador de um clube grande. Tive que pensar duas vezes antes de aceitar o convite, porque estava tendo uma contestação muito grande da torcida, e eu não entendia aquilo. Mas, por fim, a diretoria me convenceu a ficar”. – Waldemar à Rádio ESPN, em 2015.

E não teve jeito. bancado pela diretoria, Waldemar começou seus trabalhos. Em pouco mais de dois meses, já mostrava resultados. Aquele Flamengo de outubro de 2003, sem expetativa de melhoras, melhorou. Waldemar Lemos atingiu a melhor colocação do Flamengo desde 1997, terminando o brasileirão em oitavo lugar. Uma grande reação que calou a boca dos críticos precoces. Nesses 10 jogos, o técnico conquistou 6 vitórias, 3 empates e apenas 2 derrotas. Um aproveitamento de 63,64%. Em dezembro, a torcida que o criticou, esperava sua efetivação.

Técnico de resgate?

Waldemar Lemos comandando um treino em sua segunda passagem pelo Flamengo. Crédito: Gazeta Press
Waldemar Lemos comandando um treino em sua segunda passagem pelo Flamengo. Crédito: Gazeta Press

Entretanto, a mudança de opinião da torcida não foi o suficiente para a continuidade de Waldemar no Flamengo. Mesmo com o bom aproveitamento, o treinador foi demitido ao final da temporada. Contudo, esse não seria o fim de sua história na Gávea. Em 2006, o Flamengo vivia mais uma crise. Dessa vez, já no início do ano. Desde que a patrocinadora “ISL” faliu, o clube ficou perdido. Na ocasião, o rubro-negro corria o risco de ser rebaixado no Campeonato Carioca. Terminado a competição em penúltimo lugar, o Flamengo foi salvo pela campanha da Portuguesa-RJ, que conseguiu ser pior.

Enfim, terminada a competição, o Flamengo foi ao mercado. Mas sem muito dinheiro, era hora de reconhecer o bom trabalho do ex-treinador. Em março, Waldemar Lemos voltou ao Flamengo. Contudo, dessa vez ele não seria o único xingado. O clima estava ruim para todo o elenco e, mesmo reconhecido, acabou sendo mais uma vítima.

“Para você ter uma ideia, no começo daquela Copa do Brasil, a situação era tão ruim que, chegando em Natal para jogar contra o ABC, eu estava entrando no ônibus e um torcedor acertou um ovo minha cabeça. Os jogadores ficaram revoltados, mas nós contornamos. O rapaz que me acertou ficou preso, eu pedi ao delegado e ao segurança do clube que me arrumassem três ovos: um para jogar no cara, um para o pai e outro para a mãe dele. Mas acabei não fazendo isso, porque me convenceram do contrário (risos). Mesmo nesse caso, eu não deixo de pensar na educação das pessoas”.

Maior campanha da história?

Waldemar Lemos pelo Flamengo. Crédito: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press
Waldemar Lemos pelo Flamengo. Crédito: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press

Coube a ele então, mudar esse péssimo clima. Para que isso acontecesse, era preciso resultados. E novamente, eles apareceram. Inclusive, melhores do que antes. O time que quase foi rebaixado começou a golear seus rivais e avançar nas competições expressivas. Entre elas, a Copa do Brasil. Waldemar levou aquela equipe para a final contra o rival Vasco. A primeira final entre rivais do mesmo estado da história da competição.

“Foi a maior campanha, o maior trabalho que houve na história do Flamengo. O time estava completamente desacreditado, quase caiu para a Série B do Carioca, e fomos à final da Copa do Brasil. Foi muito especial”.

Chegar na final como Waldemar chegou foi histórico. O Flamengo não pagava os salários, os fornecedores e nem os prestadores de serviço. Mesmo assim, a equipe foi valente. Em três meses, Waldemar mudou tudo, criando um clima de festa para um clube em velório.

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Fora Waldemar?

Flamengo campeão da Copa do Brasil de 2006. Crédito: Fernando Soutello/AGIF/Gazeta Press
Flamengo campeão da Copa do Brasil de 2006. Contudo, sem os créditos para Waldemar Crédito: Fernando Soutello/AGIF/Gazeta Press

Fora Waldemar. Mesmo com a classificação para a final da Copa do Brasil, o Flamengo demitiu Waldemar após três meses no comando. Isso porque o clube perdeu alguns jogos no campeonato brasileiro. Foi uma surpresa para todos sua demissão. Principalmente para ele. Enquanto treinava a equipe após uma derrota de 2 a 1 para o Cruzeiro, ele foi chamado para ser dispensado.

“Acho que nessa época eu estava incomodando muitas pessoas no Flamengo… Eles estariam assinando um atestado de burrice diante do que vinha acontecendo. Porque antes não dava certo com ninguém, passaram grandes treinadores com nome e nada acontecia, e as coisas passaram a dar certo comigo.”

Para seu lugar, o Flamengo contratou Ney Franco, revelação do Ipatinga, que foi eliminado pelo Flamengo de Waldemar na semifinal da Copa do Brasil. Ou seja, Waldemar não disputou a final contra o Vasco. Na súmula de campeão, está Ney Franco em seu lugar. Um duro golpe para o arquiteto do título. Contudo, o reconhecimento dos jogadores na final foi especial. Na comemoração, eles vestiram camisas com o nome de Waldemar.

Portanto, mesmo que desvalorizado por uns, reconhecido por outros. “A gente sabe como é… Eu não aceito, mas o futebol brasileiro é isso aí…”, lamenta. Enfim, aquele meme tem sua história. Todavia, não só pelo lado cômico. Mas pelo trabalho.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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