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A pergunta do título pode parecer um pouco aleatória, mas na real, é um questionamento que os torcedores do Newcastle United vem fazendo nesses últimos meses. A equipe inglesa recebeu uma proposta para ser vendida a um ditador que causa pavor na Anistia Internacional.
A Arábia Saudita vem tentando mudar sua imagem diante do mundo, e obviamente, enxergou no esporte mais popular do planeta, a chance de conseguir controlar sua imagem e, principalmente, a imagem de seu príncipe: Mohammad bin Salman, popularmente conhecido pela sigla MBS.
Já falamos algumas vezes aqui na PressFut sobre ditadores que usaram do futebol para ganhar popularidade e espalhar seus ideais. Inclusive, a primeira matéria do site foi justamente sobre isso, lembrando de um craque que provocou Hitler e que você pode ler clicando aqui.
Dessa vez, a equipe escolhida para servir de manobra por uma ditadura foi o Newcastle United, da Inglaterra. Um clube que tem raízes operárias e que corre o risco de se tornar uma propaganda de um regime absolutista.
No início do ano, a Arábia Saudita sediou a Supercopa da Espanha, mas eles pretendem ir além. Com um investimento milionário, a proposta de comprar o Newcastle já foi aceita pela maioria da torcida, que sonha com o time de volta ao topo.
Quem é MBS e qual a preocupação que ele causa na Anistia Internacional?
Como alguns já sabem, a Arábia Saudita vive em uma monarquia absolutista, que nem de perto segue as diretrizes dos direitos humanos. O país conta com uma das maiores desigualdades de gênero do mundo, mas acredite, isso ainda é a coisa mais normal se tratando do mundo árabe. Para resumir e ligar logos os fatos, vamos apresentar o príncipe saudita e consequentemente mostrar um pouco do que acontece por lá.
A proposta recebida pelo Newcastle foi de um fundo ligado a um órgão estatal controlado pelo príncipe MBS, onde detém 80% dos recursos. Ele é responsável por ordenar o esquartejamento do jornalista Jamal Khashoggi em 2018.
Antes gozando de uma imagem de renovação, o príncipe agora, segundo a agência Reuters, corre o risco de perder a preferência na linha de sucessão. Membros da família real estariam articulado para tirar MBS e colocar Ahmed bin Abdulaziz Al Saud, irmão do rei Salman, que já está com 82 anos.
É justamente essas ameaças, que Mohammad bin Salman quer afastar. Tentando retomar sua popularidade que já foi comprada por líderes de outros países como Donald Trump (Estados Unidos), Emmanuel Macron (França) e Jair Bolsonaro (Brasil).
Sportswashing
A prática de comprar clubes para usar como meio de propaganda é conhecida como “sportswashing“, em portugês, algo como “lavagem esportiva”, que seria como limpar a imagem internacionalmente usando o esporte. Logo, como citou o perfil “Copa além da Copa“, o Newcastle United seria usado como um meio de propagar um regime que prende e executa opositores, impõe apartheid às mulheres e outros abusos autoritários.
“Não cabe à Anistia Internacional dizer quem deve ser dono do clube. Mas é preciso que todos interessados na movimentação saibam que a aquisição nada mais é que Sportswashing“. – Felix Jenkins, diretor da Anistia na Inglaterra em e-mail para a ESPN.
Além das declarações da Anistia Internacional, a ONU já condenou diversas vezes o regime saudita em seus relatórios. Angès Callamard, uma especialista em direitos humanos da ONU, publicou um relatório de mais de cem páginas incriminando Salman. “Tendo em conta as provas críveis sobre as responsabilidades do príncipe herdeiro no assassinato, estas sanções também deveriam incluir o príncipe herdeiro e seus bens pessoais no exterior”, diz o texto do documento.
O que Newcastle acha de ser vendido a um ditador?
Como mencionado anteriormente, a maior parte da torcida aprova a venda do clube. Uma pesquisa feita pelo jornal Chronical Live, de Newcastle, apontou que 80% dos mais de 6 mil votantes era favorável à venda do time para o príncipe ditador. Ainda assim, nem todos estão dispostos a concordar com isso. O coletivo Toon For Change tenta resistir a essa situação.
Essa maioria da torcida apoiando a venda do Newcastle United acontece por causa do atual dono do clube: Mike Ashley, um bilionário inglês. Em 2007, ele comprou o time com todo seu populismo, assistindo jogos no meio da torcida e vestindo a camisa do clube. Entretanto, o que era entusiasmo, virou revolta. Dois rebaixamentos em menos de uma década, controversas e protestos fizeram com que Ashley considerasse desistir de continuar no comando.
Mas será que vale ignorar questões humanitárias para voltar a ter um time competitivo? Você continuaria torcendo para um clube que é liderado e usado por um ditador? Essas questões dividem opiniões, e ainda está longe de ser algo 100% racional. Além disso, o príncipe saudita é primo do dono do Manchester City, Mansour bin Zayed Al Nahyan, que faz sucesso no time de Guardiola, o que anima ainda mais os torcedores favoráveis a transação.