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Com a conquista da Copa Libertadores pelo Palmeiras e com o primeiro título de Abel Ferreira, o português foi, acima de tudo, humano, e retratou bem o quanto é difícil o mundo do futebol profissional.
“É verdade que sou melhor treinador e muito mais valorizado, mas sou o pior pai, sou o pior filho, sou o pior tio, sou o pior marido”.
Esse trecho da entrevista coletiva de Abel Ferreira, logo após a conquista da Libertadores fez um peso bem forte no pensar de muitas pessoas.
O mundo do futebol profissional é desumano, pois você tem uma carreira ‘curta’ – no caso de Abel, foram menos de 15 anos – e precisando ganhar tudo muito rápido, com rapidez.
Não existe tempo pra nada.
Para a ampla maioria, no caso, passar dos 23 atuando em divisões inferiores faz com que o futebol acabe se tornando mais um sonho de garoto.
Também não é incomum ver atletas passando a atuar no futebol semiprofissional ou até mesmo na ‘Várzea’ e dividindo sua rotina de treinos com estudos. Contei sobre a rotina de dois desses atletas aqui.
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Essas palavras endossam o discurso de Abel sobre sair de casa sem a família.
Argentina e Grã-Bretanha, segunda e terceira colocadas no ranking, somadas, não chegam a este número.
São 2008 atletas, que deixam suas mulheres, seus filhos, seus sobrinhos, seus pais, seus avós, enfim… Deixam tudo aqui, para tentar ‘viver de futebol’.
Tem histórias como a do zagueiro Kauê Araújo.
Ele atuou nas categorias de base do Santa Cruz (PE), e foi atuar no Phrae United, time que atuava na Terceira Divisão da Tailândia.
Kauê chegou no clube após passar pelo Guaratinguetá. Pela equipe tailandesa, ficou três anos, onde ele subiu com o time, se tornou ídolo e primeiro capitão estrangeiro da história do clube.
Também temos o caso do meia Marcos Paulo.
O atleta foi para o Hienghène Sport, da Nova Caledônia, que havia conquistado o título da O-League e esteve no elenco que disputou o Mundial de Clubes de 2019.
Em novembro de 2020, menos de um ano depois de disputar uma competição FIFA, ele estava vendendo cheirinho de automóvel na sua cidade natal, Marília (SP).
Para demonstrar que isso não é um fenômeno atual, lembro o exemplo de mais um atleta: Beto.
O meia-atacante, que teve poucas passagens no futebol profissional no Brasil, foi para a Índia, onde se tornou um dos atacantes mais imponentes da década no futebol local.
Teve passagens no Mohun Bagan e no Churchill Brothers, mas sua história foi realmente escrita no Dempo, equipe da cidade de Margao, que pertence a província de Goa, e região indiana com influência portuguesa.
Ele dividiu ataque com o nigeriano Ranti Martins, onde conquistou diversas vezes a I-League e a Copa Durand.
Essa dupla foi responsável por ser o primeiro time indiano a chegar em uma semifinal de competição AFC: A AFC Cup de 2008.
Com este status tão, ele pudesse ajudar na implementação da ISL, a Indian Super League.
Ele auxiliou em negociações de atletas de primeiro escalão (casos de Leonardo Moura, Elano, Lúcio e Diego Forlán), como também de treinadores (Zico no FC Goa).
Além disso, ele auxiliou na chegada do primeiro indiano a atuar no Brasil, Romeo Fernandes, que atuou no Athletico Paranaense em 2015.
Essas mais de 2000 transferências internacionais acabam acontecendo mais pelo fato de o próprio país ter calendário anual para somente 128 clubes por ano.
O problema é que o Brasil possui mais de 800 clubes.
Temos as competições estaduais, mas com clubes que preferem contratar a toque de caixa, com jogadores, em sua maioria, jovens e de pouco custo.
Falta estrutura para o futebol brasileiro
Nós tivemos em 2019, por exemplo, o ex-goleiro Getúlio Vargas – que era comentarista do Esporte Interativo – pediu que atletas mandassem fotos com as condições precárias onde estariam vivendo.
Por essas e outras que o futebol profissional é desumano. É fácil ir pelo caminho comum de falar que ‘os atletas ganham muito’, mas este cenário é ilusório.
Com isso, a ampla maioria dos atletas – não apenas brasileiros – vive mais de sonhos e de acreditar que, um dia, podem viver de futebol.