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Futebol, Futebol Nacional

Será que o Brasil ainda é o País do Futebol?

Taís Miotti
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Em meio às constantes mudanças que ocorrem no meio futebolístico, uma grande quantidade de costumes e modos de operação antigos são modernizados. Quem não buscar evoluir juntamente a essas alterações, sofrerá as consequências. No caso do Brasil, este perderia o posto de País do Futebol.


Se existe um assunto que toca na ferida de muitos torcedores, é o de que o Brasil perdeu sua hegemonia no desporto e está se afastando de seu posto de País do Futebol e dos primeiros lugares nos rankings de qualidade e técnica na atuação em campo e também no extracampo. Isso se dá pelo fato de que, para muitos, o esporte é aquilo que ocorre apenas durante os 90 minutos, é só “jogar com raça”, como alguns falam.

Acontece que, não recentemente, o mercado – referindo-me às grandes marcas responsáveis por significativas movimentações financeiras no meio – os investidores e entusiastas estudiosos do futebol vêm alertando os clubes brasileiros sobre a falta de profissionalismo presente em diversos setores das agremiações. Avisos estes que foram deixados de lado por inúmeras instituições e, aos poucos, fizeram o futebol nacional regredir.

Hoje vários destes estão correndo atrás do prejuízo de forma amadora e inconsequente. São pouquíssimos os clubes que conseguem realizar um planejamento sólido nas pré-temporadas, ou até mesmo uma organização a longo prazo pensando em preparar melhor seus profissionais.

Mas por quê isso acontece no País do Futebol?

O imediatismo tomou conta das agremiações, e fez com que nas primeiras nove rodadas do Brasileirão 2020, por exemplo, já haviam sido demitidos sete técnicos. Ao final do campeonato, esse número chegou a vinte e sete. Alguns após pequenas sequências de resultados infelizes que fizeram os responsáveis pelas gestões considerarem como ruim o trabalho dos treinadores, mesmo em clubes que passavam por uma de suas piores fases, como aconteceu com o Goiás. Em agosto do ano do campeonato em questão, a equipe chegou a ter quinze jogadores afastados ao mesmo tempo, pois estavam contaminados pelo Covid-19. Enquanto isso, Thiago Larghi, que havia sido contratado em meio a este caos, foi demitido trinta e oito dias após ter iniciado seu trabalho com o time. Foram três derrotas, dois empates e uma vitória conquistados com ele à frente do grupo.

Essa ansiedade de obter feitos milagrosos em um curto intervalo de tempo deixa os espectadores e demais pessoas que se envolvem com o futebol um tanto quanto intrigados… É possível avaliar o trabalho de um profissional que não ficou nem dois meses em seu cargo, e ainda teve a “sorte” de ter ingressado no barco em meio a uma tempestade?

Porém, algo que parece óbvio para, pelo menos, a maioria das pessoas que já trabalhou em algo na vida – e por isso sabe que a adaptação e obtenção de resultados leva tempo – pode não estar tão clara assim para diversos gestores.

Esse fator se agrava drasticamente quando se analisa o “combo de desgraças” presente nos clubes dos mais amadores até os profissionais. Esse pacote, além do imediatismo em relação aos treinadores, ainda inclui a formação desacelerada de superelencos, com jogadores caríssimos que não se encaixam no orçamento das entidades.

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Existe uma diferença enorme, mesmo entre equipes da Série A…

Importante mencionar que, nesse quesito, tem-se exemplos de sucesso, como o Flamengo, que nos últimos dois anos conquistou oito títulos (2 Campeonatos Estaduais; 1 Libertadores; 2 Campeonatos Brasileiros; 2 Supercopas e 1 Recopa Sul-Americana). Por isso, clube carioca tem hoje um dos melhores elencos da América do Sul e vive uma fase espetacular.

Do outro lado está o Atlético-MG que, com o chamado “Pacote Sampaoli” teve gastos exorbitantes e não obteve resultados à altura. Desde março de 2020, quando iniciou seu trabalho no Galo, o argentino solicitou a contratação de 14 jogadores. No total, estas aquisições geraram despesas na casa dos R$ 193,7 milhões. Além desse valor, a diretoria atleticana gastou R$ 18 milhões (média de R$ 1,636 milhão ao mês) com remunerações ao treinador e à sua comissão técnica. Ademais, somando ainda os salários pagos ao grupo principal do Atlético-MG (R$ 108 milhões), o pacote Sampaoli custou ao todo R$ 319,7 milhões ao clube mineiro (valores correspondentes de março/2020 a fevereiro/2021).

Nesse período em que o técnico esteve no comando, o time conquistou um campeonato estadual e conseguiu se manter na terceira colocação do Brasileirão. Como resultado, estes feitos trouxeram um valor na casa dos R$ 40 milhões aos cofres da entidade, não sendo um montante tão expressivo se forem levadas em conta as demais obrigações do clube, mas isso é assunto para outro texto.

Enquanto o planejamento prévio não for prioridade nas agremiações, o Brasil ficará cada vez mais atrasado em relação a essa modalidade esportiva do resto do mundo. Com a consequente queda na qualidade desportiva, estará menos presente em competições – como o Mundial de Clubes FIFA, por exemplo – e poderá se despedir do título de país do futebol com o tempo.

Taís Miotti

Economista falando de futebol nas horas vagas.
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