Profissionalismo no futebol brasileiro. Crédito: Alessandra Torres/AGIF
Futebol, Futebol Nacional

O profissionalismo ainda assusta o futebol brasileiro

Em entrevista para a Record TV, o jogador Nathan do Atlético Mineiro revelou algo grave, mas nada surpreendente. O técnico Rafael Dudamel foi demitido do clube por querer implementar o profissionalismo rápido demais, e profissionalismo no futebol brasileiro é algo que os jogadores não estão acostumados.


A ordem hierárquica parece não existir, se é que de fato existe. Os jogadores de futebol mandam no comando do time, e após a entrevista de Nathan, do Atlético Mineiro, algo nada surpreendente se revelou: elenco insatisfeito derruba técnico.

“Recebo com decepção as declarações de Nathan(…)Hoje eu entendo porque ele não triunfou em nível internacional. Mas os meus melhores desejos para ele e todo o clube.” – Rafael Dudamel ao Globo Esporte.

Se após a demissão de Dudamel eu questionei a diretoria do clube, onde você pode ler clicando aqui, agora eu questiono também os jogadores, principalmente os mais novos como Nathan: o que vocês querem para o futuro?

O que impressionou de fato não foi o corpo mole dos atletas, e sim os outros pontos levantados pelo jogador. Na entrevista, ele citou a insatisfação dos jogadores em serem obrigados a almoçarem meio dia ao invés de irem para a academia. Bem vindo ao mundo profissional e com horários pré definidos, caro jogador.

Ainda assim, não chegamos ao topo da surpresa. Em outro ponto, Nathan citou que o elenco não gostou de mudanças no próprio esquema de jogo.

Os mimos do futebol

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“A gente era acostumado em um esquema e só jogar de um jeito, então chega um técnico e quer que a gente jogue de outro jeito, aí alguns jogadores começam a não gostar.” – Nathan, em entrevista para a Record.

Nesse ponto a gente já pode definir o auge da várzea que é o futebol brasileiro. Indo para além das questões profissionais que os atletas não estão acostumados a conviver, isso é uma questão da própria função deles. É um absurdo sem tamanho uma declaração dessa vindo de um jogador profissional.

Mimado é uma das palavras para definir o jogador do futebol brasileiro. E os fracassos recentes também podem ser definidos por essa ótica. Mas falando ainda sobre as relações profissionais, como bem citou Jorge Iggor em seu twitter, comodismo, individualismo e insubordinação são os três pilares desses fracassos.

Imagina só um jogador reclamar que Pep Guardiola multou ele por chegar atrasado em seu compromisso. E onde estava com a cabeça Jurgen Klopp ao mudar o esquema de jogo do Liverpool? Como o próprio Dudamel disse, isso explica muito bem um dos motivos de muitos brasileiros não darem certo na Europa.

Dar tempo ao tempo ou começar a mudança de cara?

Rafael Dudamel, pelo Atlético Mineiro. Créditos: Bruno Cantini /Agência Galo /Atlético
Dudamel foi demitido com com 30 dias de trabalho. Créditos: Bruno Cantini /Agência Galo /Atlético

É impressionante como a gente não aproveita os bons exemplos que vira e mexe somos contemplados em conviver. Após a passagem de Seedorf pelo Botafogo, o ex-goleiro Jefferson disse que um dos empecilhos com ele foi a forma apressada do holandês em mudar as coisas do dia a dia.

“O Seedorf chegou aqui no Botafogo e revolucionou. Pela postura, profissionalismo dele. Claro que a cobrança dele em certos momentos era muito forte. Mas é um cara chato para o bem. É que às vezes ele tentou mudar as coisas muito rápido. Acho que em três, quatro meses ele tentou mudar coisas que duraria talvez anos. Então acho que nisso que ele pecou. Mas com certeza ele acrescentou muito pro Botafogo, que cresceu muito com a chegada dele.” – Jefferson ao Globo Esporte.

Essa é uma das coisas mais repetidas entre os atletas brasileiros. Não acostumados com trabalhos mais rígidos, eles se assustam quando alguém aponta o que está errado ou pode melhorar. Por isso, pedem tempo para disseminar as mudanças, mas como vimos no caso do Dudamel, ninguém deu tempo para o próprio aplica-las.

Está aí uma diferença que aconteceu no Flamengo. Não houve reclamação quando Jorge Jesus mandou os jogadores marcarem o ponto em que chegavam e saiam dos treinos. Foi apressado, mas com o pulso firme da diretoria e a vontade de vencer do elenco, tudo que faltou no Atlético Mineiro e que fez com que o Flamengo desfrutasse de diversos títulos em questão de meses.

Por tanto, mesmo que possamos discutir a gestão de pessoas de treinador A ou B, fica evidente que muitos jogadores não se esforçam para trabalhar como profissionais. Agora é torcer para que o Sampaoli consiga desfrutar de um ambiente minimamente compreensível depois dessa covardia que foi exposta publicamente.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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