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Mesmo sem Copa do Mundo, o futebol feminino do Brasil é uma grande potência com muitos títulos e, principalmente, muito talento. Marta, a maior jogadora de todos os tempos, é o maior exemplo. Mas não podemos esquecer da nossa primeira craque da bola. Muricy, coloca a Sissi!
Sisleide do Amor Lima, popularmente conhecida como Sissi, foi a primeira grande craque brasileira antes do surgimento de Marta. A ex-camisa 10 da Seleção Brasileira foi premiada pela FIFA no time de Lendas Mundiais. Entretanto, assim como muitos casos de jogadores que não são devidamente reconhecidos no Brasil, Sissi quase nunca é lembrada.
Pioneira na modalidade, ela teve que ser persistente. Fazendo parte da primeira Seleção Brasileira de Futebol Feminino, Sissi e seu grupo ficou em terceiro lugar na Copa do Mundo experimental de 1988. Depois disso, ela ainda disputou essa e outras competições de forma oficial, como a Copa do Mundo de 1995 e 1999 e os jogos Olímpicos de 1996 e 2000.
“Meu pai e meu irmão falavam que esse negócio de bola não era para menina. Só me deixavam brincar de bobinha. Um dia acabei me revoltando. Peguei minha boneca e arranquei a cabeça. Foi assim que comecei a dar meus primeiros pontapés. Porque futebol feminino era proibido. Foram vários sacrifícios. Mas sempre fui persistente.” – Sissi ao Globo Esporte.
Um dos gols mais bonitos da modalidade, foi de Sissi, na Copa de 1999, nas quartas-de-final contra a Nigéria. Um ”gol de ouro”, de falta, que marcou sua carreira.
A genialidade esquecida por conta de um cabelo curto
A craque brasileira nunca se importou com tabus impostos pela sociedade. Em um belo gesto, raspou seu cabelo homenageando uma criança que estava com câncer e sofria bullying. Todavia, em um ambiente tão atrasado, a atitude não foi bem aceita. Primeiro que já achavam que o futebol feminino ia contra a “essência feminina”, depois, sofreu diversos xingamentos e foi até impedida de participar de um campeonato em São Paulo por conta do cabelo curto.
Acontece que o caso acabou virando uma “rebeldia” de Sissi. Após sofrer ataques, ela quis romper esses padrões impostos peça sociedade e até mesmo pela CBF. Artilheira da Copa do Mundo de 1999 com 7 gols, artilheira do Campeonato Sul-Americano com 12 gols e a primeira jogadora do Brasil a ganhar reconhecimento mundial, Sissi bateu de frente com a CBF e cobrou diversos direitos. Entretanto, a Confederação começou a não ligar para os feitos, pois não achava legal vender a imagem de uma mulher com cabelo curto.
Essa situação talvez tenha sido a mais triste de sua carreira, mas o futebol feminino com um todo, sempre sofreu muito. Por isso, com toda a experiência adquirida, Sissi até achou legal a obrigatoriedade dos clubes possuírem equipes femininas, mas prefere apostar na base como sobrevivência da categoria. Ao lembrar das situações, onde chegava a vestir uniforme masculino por falta de uniformes femininos, ela espera que a estrutura mude de verdade, e não com leis simplistas.
Coloca a Sissi!
Na época em que jogava no São Paulo, a torcida tricolor brincava durante os jogos da equipe masculina, pedindo para o técnico Muricy Ramalho colocar Sissi: “Ei, Muricy, coloca a Sissi!”. Infelizmente, o reconhecimento não foi muito além disso, mas sua contribuição é enorme.
Dentro de campo, como os próprios números e fatos citados dizem, Sissi foi brilhante. Um dos 11 nomes do Hall da Fama do mundo do futebol, infelizmente, não é tão reconhecida pela CBF. Mas como ela diz e se orgulha, sua geração foi fundamental para a luta da atual geração. A perseverança de Sissi talvez tenha custado caro para ela mesma, mas gerou muitos frutos.
Portanto, Se hoje discutimos a valorização do futebol feminino, Sissi discutiu se podia jogar bola ou não. Graças a ela e outras mulheres, exclusivamente, podemos dizer que a projeção da categoria é mais otimista.