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A contratação de um condenado por estupro partiu de um policial e político, e de um reitor de universidade e empresário. O caso Robinho tem seus responsáveis. E quem começou a pagar a conta foi o Santos.
Em julho, publiquei uma matéria intitulada de: “O futebol como habeas corpus para condenados de estupro e violência contra mulheres”. Impressiona que, desde então, tenhamos que citar essa matéria pelo menos uma vez ao mês. Isso porque, os episódios pioraram. Ainda que haja ressalvas, como Leo Valencia, citado nessa matéria. Ele foi expulso do Colo Colo após uma pressão da torcida feminina do clube chileno. Entretanto, outros citados como Cuca, Bruno e Robinho, continuam com a liberdade provisória eterna. E é justamente sobre o Robinho, que trataremos nessa matéria.
Condenado a 9 anos de prisão na Itália por estupro, Robinho foi repatriado pelo Santos. É a quarta passagem do atleta pelo clube que foi revelado. A diferença, é que nas outras três ele não era condenado. Robinho foi condenado em primeira instância, em 2017, por violência sexual de uma jovem albanesa. O crime ocorreu em 22 de janeiro de 2013. Na ocasião, foi um estupro coletivo, onde mais cinco homens teriam participado. No entanto, apenas dois foram condenados até agora. Entre eles, Robinho que, segundo o processo, foi o primeiro a violenta-la. Seu caso está em fase de recurso.
Detalhe do processo:
“A moça albanesa comemorava seus 23 anos com amigas. Segundo a reconstituição, o jogador foi o primeiro a violentar a jovem que, devido ao álcool, não estava em condições de se opor a seu amigo, de 35 anos, que a constrangeu a ter relações. Os dois depois cederam a vítima a quatro amigos que, até aquele momento, tinham assistido a tudo sem interferir”, diz a publicação, baseada na reconstituição dos juízes.
Essa foi a segunda denúncia de estupro contra o atacante. Em 2009, quando jogava no Manchester City, Robinho foi investigado por uma suposta agressão sexual que teria ocorrido em um clube noturno de Leeds. Interrogado pela polícia, foi liberado sob fiança. Depois, a polícia decidiu não dar continuidade ao caso e o jogador não foi a julgamento.
Deboche
Mesmo avaliando a condenação de Robinho, o Santos achou pertinente repatriar o jogador. Mais do que isso, escolheu uma data oportuna para anuncia-lo: 10 de outubro, Dia Nacional da Luta contra a Violência à Mulher, que completou 40 anos. O que o Santos fez foi um soco no estômago não só das mulheres, mas de qualquer pessoa que tenha o mínimo de senso. Mas para as mulheres, certamente foi muito pior.
Esse deboche contra as mulheres só não foi mais nojento do que o de Robinho. No processo de estupro, uma das juízas responsáveis pelo caso sob tutela do Tribunal de Milão, presidido por Mariolina Panasiti, revela o deboche dos condenados em conversas interceptadas pela justiça italiana. A juíza garantiu que a mulher foi “exposta a humilhações repetidas, bom como atos de violência sexual pesados.” A magistrada afirmou que os termos chulos e desdenhosos são “sinais inequívocos de falta de escrúpulos e quase consciência de uma futura impunidade”. Apontando ainda, o fato de o acusado debochar do acontecido por inúmeras vezes, “destacando assim um absoluto desrespeito pela condição da vítima”.
Mas quem são os responsáveis pela contratação de Robinho?
Orlando Rollo
Sabendo de toda a história, em contato com a advogada do atacante, dirigentes ainda fizeram esforço para fechar com o jogador. Por isso, é importante dar nome aos envolvidos. O pior de tudo, são os cargos públicos e profissionais que eles ocupam. Primeiro, o mais importante: Orlando Rollo. Após o afastamento do presidente José Carlos Peres, o então vice-presidente assumiu o cargo maior.
Orlando Rollo é um policial civil conhecido por ser temperamental. Por isso, ele é conhecido também, por mover ações na Justiça contra torcedores do Santos que criticam seu trabalho. Além disso, Orlando é ex-vereador pelo PDT. É autor do livro “Participação da maçonaria nos destinos políticos da nação brasileira”. Como policial, fez um treinamento com a Swat (grupo de elite da polícia americana) onde, segundo ele, foi convidado por Marcos do Val, senador do Podemos. O parlamentar entretanto, diz não conhecer Orlando Rollo.
Últimas ações de Orlando Rollo
As ações contra a própria torcida se popularizaram em 2018. Quando fez oito denúncias. Torcedores do Santos protestaram num hotel em Buenos Aires antes do jogo contra o Estudiantes pela Libertadores. Na ocasião, Rollo bateu boca com os torcedores. Um santista disse que: “a atual diretoria, na figura de seu vice-presidente, destratou torcedores no saguão do hotel.” Rollo então, processou esse torcedor. Contudo, a justiça rejeitou a queixa-crime.
Depois, começaram os processos da internet. Rollo acionou um santista por ter sido chamado de: “babaca e incompetente”, no Facebook. Um terceiro foi processado por ter proferido outros xingamentos, como: “bobão”, “babaca”, “enganador” e “bandido”. Outros dois santistas foram acionados por outras ofensas ao então vice-presidente, como: “vagabundo”, “incompetente”, “cobra”, “safado” e “pilantra”.
Após ser chamado de “vice decorativo”, Orlando Rollo também apresentou uma queixa-crime ao Ministério Público. Novamente, a ação foi prontamente rejeitada pela Procuradoria, que não viu qualquer injúria e classificou a declaração apenas como uma crítica.
Orlando Rollo ainda foi à Justiça após ouvir um áudio de um torcedor no WhatsApp dizendo que ele “não tem credibilidade, nem falar sabe direito, é um policial civil que quase foi expulso e exonerado do cargo”, e quando um torcedor disse: “os ratos estão pulando fora do barco”, frase na qual ele serviu a carapuça.
Marcelo Teixeira
Além dele, o ex-presidente do Santos, Marcelo Teixeira, será o responsável por pagar os salários de Robinho. Um péssimo exemplo do dono e pró-reitor administrativo da Universidade Santa Cecília. Marcelo é uma figura influente na política da baixada santista. Foi condecorado como: Cidadão Emérito de Santos, Cidadão Emérito de Guarujá, Troféu Cidade de Santos, Personalidade do Ano de Santos (1998 e 2000), Troféu Ernani Franco e medalha Amigo da Marinha. Além disso, tornou-se membro da Academia Brasileira de Arte, Cultura e Esporte, da Academia Santista de Letras (cadeira Athiê Jorge Coury) e do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (cadeira nº193).
“Marcelo Teixeira me ligou e perguntou se pode articular a vinda de Robinho. Ele iniciou a negociação. Um dos principais motivos do Robinho vir é o presidente Marcelo Teixeira ajudar muito na negociação. Conseguimos sensibilizar Robinho e sua procuradora, a doutora Marisa (Alija). Quando sentei na mesa com ela, estava com medo (risos).” – Orlando Rollo, ao “Domingo Esportivo”, da Santa Cecília TV.
Más exemplos
Beira o absurdo um policial fazer esforço para contratar um condenado por estupro. Todavia, ele faz questão de contar como foi esse esforço, sem o mínimo de consciência.
“Robinho aceitou meu apelo e concordou em receber apenas R$ 1.500 de salário (piso mínimo pago aos jogadores de futebol), por cinco meses de contrato, tendo em vista a nossa situação financeira delicada. Veio para ajudar o Peixe. Seja bem-vindo novamente, Pedalada!”. – Orlando Rollo.
Portanto, fica nítido que, em nenhum momento, esses dirigentes levaram, de forma séria, um processo que condena Robinho em primeira instância. Isso porque, eles possuem todos os aparatos possíveis. São políticos influentes e que ocupam cargos que deveriam prezar pelo respeito, mas na verdade, enojam companheiros de profissão.
Consequências
Além das críticas nas redes sociais e em veículos de comunicação, o Santos perdeu dinheiro. A Orthopride, patrocinadora do clube, rompeu o contrato que iria até o final de 2021. Em nota, o diretor de operações da empresa, Richard Adam, citou o respeito às mulheres.
“Nós temos enorme respeito pela história do Santos. Mas neste momento decidimos pelo rompimento do contrato de patrocínio. Nosso público é majoritariamente feminino e, em respeito às mulheres que consomem nossos produtos, tivemos que tomar essa decisão. Queremos deixar claro que não fomos informados previamente sobre a contratação de Robinho. Fomos pegos de surpresa pela imprensa no fim de semana.” – Richard por telefone ao GE.
A mancha na história e a conivência
Em nota de esclarecimento, o Santos relembra sua bela luta social e de inclusão. Entretanto, diz que vivemos na “era do cancelamento”. Não adianta lembrar a bela história e mancha-la atualmente. Não adianta fazer campanhas contra a violência à mulher nas redes sociais, e agir diferente no dia a dia. A responsabilidade social precisa ser constante, e contratar condenado não é um bom exemplo. O mínimo que se espera é coerência. Não adianta reclamar das críticas quando toma atitudes hipócritas.
Vale lembrar, que Robinho é o segundo condenado por estupro no elenco do Santos. O técnico Cuca, é o primeiro. Nesse caso, ainda pior. Pois Cuca foi preso e depois respondeu em liberdade pelo estupro coletivo de uma adolescente de 13 anos. Ele não deveria estar no futebol. Mas a CBF é conivente. A MLS por exemplo, proíbe atletas e funcionários envolvidos em violência contra à mulher. Por aqui, temos de goleiro agressor até técnico estuprador. Nada acontece. Carreira de homem nenhuma é manchada nem pelos mais bárbaros crimes. Vide Bruno.
Caso Robinho é um entre tantos
Portanto, como vimos anteriormente, a violência contra à mulher é naturalizada. Isso porque, é “apenas” mais um processo que essas pessoas na figura de: dirigentes, policiais, políticos, reitores e empresários acompanham. Como dirigentes, usam a paixão do torcedor como forma de manipular opiniões. Por isso, vale relembrar a frase de Andrada Bandeira, doutor em educação e autor de estudos sobre masculinidade e futebol:
“Se a violência contra a mulher já é naturalizada pelo homem comum, imagina pelo homem rico, famoso e idolatrado, como é o caso de muitos jogadores de futebol? Ele acaba pensando que a mulher não tem direito de lhe negar nada. E se sente protegido pela devoção incondicional dos torcedores, que tendem a culpar a vítima quando um de seus ídolos se envolve num escândalo desse tipo”. – afirma o pesquisador.
Por isso, continuaremos vendo Cuca, Jean, Wesley Piontek e Robinho em plena Série A do Campeonato Brasileiro. Há quem os defenda, há quem os idolatre. Enquanto a CBF for conivente, o número só crescerá. Para as mulheres, o mais sincero pesar. Que a luta pela vida de vocês não seja em vão.