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O Botafogo vai se tornando inviável sem aporte financeiro. É a partir desse fato que o clube tem se movimentado para atrair investidores e profissionalizar sua gestão. A “Botafogo S/A” é uma grande expectativa.
“Uma estrela solitária conduzindo o futebol brasileiro ao profissionalismo”. Assim Pedro Trengrouse definiu o projeto do Botafogo na Soccerex, evento de negócios de futebol com sede em Londres e que conta com profissionais e investidores do mundo todo. De lá para cá, empresas e pessoas da Espanha, Portugal, Dinamarca e Inglaterra procuraram o Botafogo. Além de China (governo chinês) e EUA, que o Botafogo procurou. Nem todos se tratam de investimento direto no futebol. Os últimos por exemplo, podem ser patrocinadores, lojas para o estádio ou “apenas” intercâmbio para as categorias de base. Mas sobre o projeto de se tornar clube-empresa, como funcionaria a Botafogo S/A?
A primeira etapa do processo começou em 2018, com a contratação da Ernst & Young Global Limited, mesma empresa que auditou as contas do Flamengo, e que foi contratada pelos irmãos Moreira Salles – torcedores milionários que ajudam o Botafogo – para fazer uma auditoria geral nas contas do clube. O estudo terminou perto da metade de 2019 e revelou dívidas astronômicas que já eram esperadas, porém, a partir desse estudo, com valores exatos, pôde-se começar a planejar a “salvação” do Botafogo.
Para se ter uma ideia do tamanho do buraco em que o Botafogo se encontra, as dívidas chegam perto do valor de 1 BILHÃO de reais. Mesmo após uma melhora em 2017, onde o time abaixou a dívida gerando receita disputando a Libertadores, o adiantamento de cotas televisavas fez os anos seguintes voltarem ao negativo. Segundo o último balanço financeiro feito pela Pluri Consultoria, o Botafogo teve uma queda em praticamente todas as categorias, com exceção da venda de atletas, o que não adianta muito momentaneamente, pois antes de receber o lucro da venda, esse dinheiro é automaticamente penhorado.
Separando o Futebol do Clube de Regatas
Após passar por votações de separação e de modelo de gestão, chega a hora de repartir o clube em dois. De um lado, fica todo o clube que conhecemos hoje, menos as coisas que tenham relação com o futebol, pois ele vira uma empresa independente. O Estádio Nilton Santos (incluindo o pacote naming rights e shows), o CT que está sendo construído e todos os direitos reservados ao futebol, como patrocínios, jogadores do profissional, categoria de base e feminino, passam a ser da empresa – tratada como SPE (Sociedade de Propósito Específico) – assim como as despesas. Ex-presidente do clube e que agora é uma das peças-chave na estruturação do projeto, Montenegro é também o porta-voz desse processo na mídia.
“Você está começando a fortalecer um time a partir do momento em que você só se dedique ao futebol. Todos estão trabalhando muito por patrocínio. O pessoal da Arena do Palmeiras, a W Torre, tá interessada em entrar. Faz parte do projeto? Não. Mas vão entrar. Os caras querem fazer shows, isso e aquilo, e tornar rentável o Nilton Santos.” – Montenegro ao Globo Esporte
Vale lembrar que essa separação não é uma obrigação, mas como disse no texto anterior, não existe um padrão para clube-empresa, logo, o Botafogo optou fazer desta forma, pois facilita a captação de investidores que, como bem sabemos, tanto as pessoas, quanto as empresas, estão mais interessadas no futebol do que na sede social do clube. É uma prevenção, como lembra Montenegro.
“A legislação nova faz coisas de modo que você nem precise separar, mas a gente acredita que sem separação não vem ninguém de fora.” – Montenegro, ex-presidente do Botafogo e diretor do IBOPE.
Durante 2019, o Botafogo correu contra o tempo, pois precisava criar rapidamente a empresa nova para inscrevê-la nas competições até a data limite. Lembrada por alguns, a Cia. Botafogo, empresa criada por Bebeto de Freitas – ex-presidente nos anos 2000 e que ajudou a conquistar a concessão do estádio do clube – não será utilizada também por precaução. As pessoas envolvidas no projeto entendem que os investidores querem adquirir uma empresa criada recentemente, pois mostraria que o clube realmente quer mudar. Inclusive, a antiga empresa também tem dívidas que não serão incluídas.
A separação entre o clube e o futebol também tem muito a ver com o foco nos objetivos e nas estruturas. Se hoje os ativos do clube estão em General Severiano, na Sede do clube, a ideia é que no futebol, esses ativos passem a ser no centro de treinamento adquirido com ajuda dos irmãos Moreira Salles, para que no futuro, ele integre base e profissional, servindo inclusive como modo de educação e desenvolvimento, com escola e uma verdadeira rotina de cidade própria.
A dívida e o aporte
Marcelo Saad, da Laplace Finanças, que atuou no desenvolvimento do modelo para o clube, durante a apresentação ao conselho deliberativo destacou que: “Sem aporte não é viável que o Botafogo tenha continuidade por muito tempo”. Como vimos no início do texto, a dívida chega na casa do bilhão e a receita do ano passado, por exemplo, foi de apenas R$157,6 milhões. De que forma algo ou alguém pode viver saudavelmente assim? Não dá. É por isso que um movimento começou a acontecer com ajuda de torcedores ilustres. Em paralelo, Rodrigo Maia, o botafoguense mais famoso da política do país, também se movimenta com o projeto de clube-empresa no Brasil, porém, como citado na matéria anterior, um não depende do outro, e é por isso que o Botafogo começou os trabalhos bem antes, sem nenhum tipo de dependência.
Diante de toda essa dívida, após a auditoria, ficou definido que o aporte mínimo e imediato precisa ser de no mínimo 200 milhões de reais. Esse investimento seria apenas para sanar as dívidas de curto prazo, que são as mais importantes, pois sufocam o time com as penhoras e processos. Pagando-a, livra-se de um peso nas costas que permitirá inclusive, a montagem de uma equipe minimamente competitiva. O modelo de equipe, passará pelo dono da empresa, que terá 100% dela e pagará royalties ao clube. O plano atual dos cartolas responsáveis pela mudança, é que de início, formem uma equipe jovem com potencial de venda futura.
Será criado um Fundo de Direitos Creditórios Não Padronizado (FIDC-NP) e o(s) investidor(es) vai se comprometer com recursos para pagar as dívidas privadas do clube, perto dos R$ 400 milhões. Durante a negociação da venda, é possível que o Botafogo tente convencer o investidor com propostas mais imediatas. Para entrar mais no lado financeiro, clique aqui para ser direcionado a uma matéria da revista Valor Econômico.
Os responsáveis pela estruturação da “Botafogo S/A”
Muita gente se desesperou quando o estudo da Ernst & Young terminou e os irmãos Moreira Salles disseram que encerraram sua contribuição. Os irmãos milionários eram vistos como os “Messias” que salvariam o clube injetando parte do patrimônio familiar e se tornando os CEO’s. A intenção nunca foi essa, e diante de tanta exposição na mídia, eles tiveram que ir a público se posicionar. Tímidos que só, saíram de cena explicando que a ajuda foi na profissionalização. Se vão investir com algum valor no futuro, não se sabe.
“Não temos projetos políticos pessoais em relação ao Botafogo. Não pretendemos, nem saberíamos como gerir um clube de futebol.” – Irmãos Moreira Salles em esclarecimento online.
Depois de contratarem o estudo, contrataram também a Trengrouse & Associado, escritório de advocacia de Pedro Trengrouse, do início da matéria. O Botafogo disponibilizou profissionais e outras empresas. No total, foram 7 empresas contratadas, 18 profissionais especializados e 20 profissionais do clube trabalhando desde agosto de 2019. Muitas reuniões foram realizadas na casa de pessoas envolvidas além de outras dez reuniões com fundos especializados e 25 encontros com gestores de fortunas familiares.
Como lembra Montenegro, não existe uma data definida para que a Botafogo S/A aconteça. Pode ser tanto esse ano como pode ser apenas em 2023, o foco agora é atrair os investidores e negociar com eles. Por enquanto, 3 investidores farão reuniões com o clube esse ano em sigilo. A expectativa é que esse número cresça ainda mais.