Botafogo rebaixado? Situação é muito delicada. Crédito: André Durão.
Futebol, Futebol Nacional

O maior desafio da história do Botafogo

Botafogo rebaixado? Segundo matemáticos, o alvinegro tem apenas 18% de chances de escapar do rebaixamento. Em ano de eleição, o clima no clube é muito conturbado e Honda ameaça sair.


Para escapar do rebaixamento, o Botafogo precisaria vencer metade dos jogos que faltam para serem disputados. Essa foi a conta feita por Emiliano Díaz, último técnico dos cinco que comandaram a equipe em 2020. Ou seja, faltando 16 partidas, o clube precisa vencer 8 jogos. Todavia, em 21 jogos no campeonato, o Botafogo acumula apenas 3 vitórias. É desesperador o momento do alvinegro carioca.

Diante do baixo desempenho em campo, diversas turbulências tomam conta do clube. No elenco, declarações geram crises constantemente. Primeiro, o zagueiro Rafael Forster discutiu com um torcedor em uma rede social. Na ocasião, ele disse que os salários em dia era mentira. Depois, foi a vez de Cícero começar a questionar a própria diretoria e os treinadores. Com publicações também nas redes sociais, ele chegou a dizer que ninguém explicou o motivo dele ser afastado. Nessa semana, a maior bomba de todas. O japonês Honda disse que se não convencerem ele nos próximos dias, ele pode deixar o Botafogo. Tomado pelos jogadores, o clube não possui mais administração. Algo muito parecido com o que aconteceu com o Cruzeiro, rebaixado em 2019.

Essas declarações mostram uma falta de comando absurda dentro do clube. O presidente Nelson Mufarrej pouco aparece. Quem costuma dar declarações, é Carlos Augusto Montenegro. E o pior, sempre causando mais polêmicas. Em ano de eleição, o ambiente ficou ainda mais conturbado, refletindo dentro de campo. Em cobranças de bola parada, constantes brigas entre os jogadores acontecem. Contra o Atlético-MG, Honda e Victor Luis conversavam uma jogada ensaiada para Honda cobrar a falta. Contudo, Marcinho tomou a bola do japonês na marra, gerando um conflito. O experiente Kalou tentou conversar com o jovem Marcinho. Mas sem sucesso.

Botafogo rebaixado?

Um time profissional não pode ter 5 técnicos em uma única temporada. Ainda mais trocar essa quantidade em apenas onze meses. Levando em consideração, que o futebol ficou paralisado cerca de quatro meses por conta da pandemia do novo coronavírus. É difícil achar no mundo, um planejamento que seja tão ruim quanto esse atual do Botafogo. A diretoria ignora qualquer tipo de estratégia necessária para montar uma equipe. Entregue aos empresários, que colocam qualquer jogador no Botafogo em troca do perdão da dívida do clube, o time não possui um modelo de jogo e, convenhamos, não é nem possível pedir um padrão de jogo.

Dança das cadeiras

Eduardo Barroca volta ao Botafogo.
Eduardo Barroca será o sexto profissional a comandar o Botafogo no ano. Entretanto, pouco pode fazer para ajudar. Crédito: Pei Fon/TNH1

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Como sabemos, o futebol brasileiro possui um calendário apertado que não permite mudanças bruscas durante a temporada. Mas gerido por amadores, auto-proclamados com orgulho, o Botafogo foi atrás dos mais diversos estilos de técnicos. Sem nenhuma premissa ou ideia de jogo. Após a demissão de Paulo Autuori, substituto de Alberto Valentim, queimaram o interino Bruno Lazaroni, demitido com apenas 6 partidas. Número que, segundo estudo feito pela Universidade do Esporte da Alemanha e publicado aqui no site, não é suficiente para ver nenhuma mudança em uma equipe do campeonato brasileiro.

Falta de critério

Depois da demissão de Lazaroni, foi a vez da chegada de Ramón Díaz após negociações frustradas com César Farías. Em comum, dois estrangeiros. Fora isso, nenhum tipo de ligação sobre o estilo de jogo, completamente diferentes. Mas como a torcida clamou por um técnico gringo como a suposta salvação, o Botafogo contratou mesmo assim. Uma forma de calar a boca do torcedor. Uma cortina de fumaça.

Entretanto, o torcedor não tem culpa de se iludir com nomes novos. O torcedor é passional, e pode agir assim. Mas o dirigente não. Ele não pode se deixar levar pela emoção. Dirigentes precisam ser profissionais acima de tudo. Mas não são, e não foram. Com pouco tempo pela frente, preferiram contratar um técnico sem a mínima vivência do campeonato. O que demandaria tempo de adaptação. Ainda por cima, Ramón Díaz precisou fazer uma cirurgia e se ausentar por quase 1 mês. Todavia, a diretoria já sabia disso antes de assinar o contrato. Mais uma vez, uma completa falta de planejamento. Após três partidas com o filho de Ramón Díaz no comando, a comissão técnica foi demitida. Por que contratou?

Agora, chegou a vez de Eduardo Barroca. Após ser demitido de forma injusta em sua última passagem pelo clube, o técnico chega para fazer milagre. Contudo, a probabilidade do Botafogo escapar do rebaixamento é muito baixa. Segundo o matemático Tristão Garcia, apenas 18%. O que certamente fará de Barroca, coitado, um culpado.

Por que esse é o maior desafio da história do Botafogo?

Botafogo rebaixado? Situação é crítica. Crédito: Reprodução/Premiere
Discussão entre jogadores. Kalou tenta convencer Marcinho a devolver a bola pro Honda. Crédito: Reprodução/Premiere

Como vimos, a queda para a segunda divisão é iminente. Há chances de escapar. Mas muito pouca. E o pior de tudo, é caso não consiga permanecer na primeira divisão. Entre o último rebaixamento do Botafogo em 2015 e agora, muita coisa mudou. As receitas da Série B diminuíram drasticamente. A partir dessa temporada, os clubes que caírem terão muito mais dificuldades de retornarem para a elite. No caso do Botafogo, isso se acentua ainda mais. Isso porque o alvinegro é um dos clubes mais endividados do país. Ou seja, será preciso recomeçar praticamente do zero. A exemplo do Cruzeiro, que ficou boa parte do primeiro turno na zona de rebaixamento da Série B.

Entre ilusões e realidades, o clube flerta com a falência e com o clube empresa. Por enquanto, o Botafogo está entre o oito ou o oitenta. Mas tudo pode ser definido nos próximos meses. A questão que cabe lembrar, é que o Botafogo é um clube amador. Não há planejamento, não há estrutura e não há soluções para curto prazo. Portanto, o futuro é realmente desesperador.

Atualmente, os salários são pagos por um acordo na justiça e para os gastos dos jogos, são feitos empréstimos. Segundo avaliação interna, o clube sobrevive atualmente por dois motivos: antecipação das cotas televisivas e a venda da joia Luis Henrique ao Olympique de Marselha. Venda de R$ 25 milhões que foi parcelada.

Novo presidente pode assumir Botafogo rebaixado

Durcésio pode assumir Botafogo rebaixado.
Durcesio Mello será o novo presidente do Botafogo. Crédito: Vitor Silva/Botafogo

Independente de saber ou não o futuro do clube, Durcésio Mello assumirá o Botafogo no dia primeiro de janeiro. Eleito o novo presidente, ele não tem o que fazer nesse momento. Mas assistirá o fim do campeonato brasileiro que só termina no ano que vem. Ou seja, será preciso traçar muito bem o planejamento da próxima temporada. Trabalhando com duas vias, pois não se sabe o que irá acontecer. Entre seus apoiadores, está Montenegro. Dentro do clube, o lema é: “Ruim com o Montenegro, pior sem ele”. Pois é ele quem banca despesas que o clube não consegue arcar. Entretanto, uma das propostas de Durcésio, é profissionalizar a gestão. Atualmente, entregue para amigos dos dirigentes. Mesmo sem dinheiro, a intenção é pagar para ter profissionais capacitados nos cargos da direção.

Do outro lado da transição, está Muferrej, do grupo político “Mais Botafogo”, que dirigiu o clube nos últimos 6 anos. No começo, coincidentemente, pegaram o clube na segunda divisão. Com uma gestão de corte de gastos, conseguiu subir e, pouco tempo depois, disputar a libertadores. Contudo, o tempo foi passando e os dirigentes se embolaram em adiantamento das cotas televisivas. A conta foi toda jogada para as próximas gestões.

Portanto, será um desafio para qualquer um que entrar no Botafogo. E não apenas dirigentes, mas jogadores também. Honda deixou isso muito claro. E o clube que o contratou, esperando atrair investimentos estrangeiros, no final, acabou espantando. Enfim, esse é o maior desafio da história do Botafogo.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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