Bandeiras de Palestina e Chile.
Futebol, Futebol Internacional

Tensões entre Palestina e Israel geraram clube de futebol no Chile

A guerra entre Palestina e Israel é um fato triste que marca diversas gerações. Contudo, por meio do futebol, o Palestino do Chile é uma prova da resistência do povo palestino que sobreviveu em meio ao caos.


Nas últimas semanas, a guerra de Israel contra a Palestina voltou a tomar conta do noticiário mundial. No mundo do futebol, jogadores e equipes se manifestaram. Mas para quem ainda não está inteirado do assunto, segue abaixo um pequeno resumo.

Wesley Fofana e Hamza Choudhury com a bandeira da Palestina após o título da FA Cup. Crédito: Presstv
Wesley Fofana e Hamza Choudhury com a bandeira da Palestina após o título da FA Cup. Crédito: Presstv

Criado por judeus que moravam na Palestina, Israel nasceu da junção de povos de todos os lugares do mundo como: Rússia, Estados Unidos, Inglaterra e Polônia. Apoiado por esses países com armas avançadas, Israel vem desde 1946, atacando a Palestina para conquistar todo o seu território.

Mas como a guerra entre Palestina e Israel começou?

Exemplo da ocupação do território Palestino.
Exemplo da ocupação do território Palestino.

Com o fim da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), o Império Otomano foi derrotado pela Tríplice Entente, aliança militar formado por Reino Unido, França e Império Russo, países já citados anteriormente. A partir de então, a Liga das Nações, antecessora da ONU, determinou que a Palestina fosse administrada pela Grã-Bretanha.

Com o crescente aumento da população judaica, a Grã-Bretanha aproveitou para criar dentro da Palestina, um “lar nacional” para os judeus. Contudo, essa imigração judaica de outros países começou a gerar conflitos entre os dois povos. Enquanto a Palestina sofria com as guerras, o movimento sionista internacional seguia estimulando a imigração em massa de judeus para a Palestina. Entre 1945 e 1948, cerca de 85 mil judeus chagaram à “Terra Prometida” ilegalmente.

Com uma guerra civil instaurada, entre 1947 e 1948, mais de 700 mil palestinos precisaram abandonar o país. Uma das maiores tragédias humanitárias do século XX. Após instaurar o caos e ver que as coisas tomaram um rumo muito ruim, os britânicos decidiram deixar a Palestina. Em 1947, coube a recém-criada ONU, dividir o território a dois Estados independentes: um árabe e outro judeu.

Palestino do Chile: uma consequência da guerra

Escudo do Palestino ao lado do antigo mapa da Palestina.
Escudo do Palestino ao lado do mapa original da Palestina.

Entre os países que receberam os mais de 700 mil palestinos refugiados, estava o Chile, a principal comunidade palestina fora do oriente médio. Mais seguros no Chile, os próprios palestinos foram os responsáveis pelo surgimento do Club Desportivo Palestino. Todavia, isso não aconteceu na década de 40, e sim na década de 20, quando a guerra começou.

No dia 20 de agosto de 1920, a comunidade de imigrantes palestinos se uniram para disputar uma Olimpíada de Colônias Estrangeiras da cidade de Osorno no Chile. Entretanto, o clube acabou se mudando para a capital Santiago posteriormente. Popularmente chamado de “Tino”, apelido carinhoso, o Palestino não homenageia a Palestina apenas no nome, mas também nas cores de sua bandeira. Durante os 30 primeiros anos, o clube que só tinha jogadores de origem palestina, permaneceu no amadorismo.

Foi então em 1952, que a equipe resolveu se profissionalizar para disputar a segunda divisão Chilena. Por isso, precisou contratar jogadores de fora da colônia de palestinos. O resultado foi imediato: campeões da série b e classificados para a elite do futebol chileno.

Início no futebol profissional

Palestino do Chile na década de 50. Crédito: Reprodução
Palestino do Chile na década de 50. Crédito: Reprodução

Contando com ajuda de comerciantes árabes, o Palestino tornou-se um time rico, com aportes financeiros. Dois anos após a estreia na primeira divisão, foram campões chilenos em 1955. Contudo, o grande sucesso viria apenas na década de 1970, quando conquistou duas copas nacionais, em 1975 e 1977. No ano seguinte, consagrou-se campeão nacional tendo em sua equipe, o lendário zagueiro Figueroa. Classificado para a Libertadores de 1979, a equipe fez uma boa campanha até ser eliminada na semifinal do maior torneio de futebol da América.

Desde então, a equipe viveu um enorme jejum, encerrado apenas em 2018, quando venceu a copa nacional. Contudo, os títulos – também importantes em sua história – nunca foram o maior orgulho de seus torcedores. Conhecidos como “os árabes” no Chile, o time sofre repressões e preconceito de alguns movimentos. Ainda assim, nunca se afastaram de suas origens.

Em 2014, o clube alterou o número 1 em seu uniforme para o mapa da palestina antes da criação do Estado de Israel. Contudo, a ação gerou oposição da embaixada israelense no Chile, o que fez com que a federação de futebol punisse o clube por “provocação fora do ambiente esportivo”. Mesmo assim, a ação foi um sucesso que repercutiu no mundo inteiro, fazendo com que as camisas do clube fossem vendidas até fora do país.

Palestina trocou o número 1 pelo mapa da Palestina antes da invasão de Israel. Crédito: Getty Images.
Palestina trocou o número 1 pelo mapa da Palestina antes da invasão de Israel. Crédito: Getty Images.

Do Chile, para além do Chile

Leia mais:

“Palestino é um pedaço da Palestina no Chile, e são vocês, jogadores, nossos embaixadores que hoje terão de mostrar nossas cores em toda América do Sul. Em nome de todos nós, vocês que são parte de nós, muito obrigado e que Deus lhes abençoe.”

Essa foi a carta enviada pelo Presidente da Palestina em 2014 após a classificação do Palestino para a Libertadores de 2015. Após 35 anos de jejum, a campanha do time na competição sul-americana foi transmitida na Palestina pela rede de TV Al Jazeera com suporte do Bank of Palestine, que patrocina o clube.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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