da esquerda à direita estão os técnicos: Alberto Valentim, Felipe Freitas, Allan Aal, Dorival Júnior e Matheus Costa
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Opinião dos técnicos brasileiros sobre a nova regra da CBF

Taís Miotti
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Muito se fala do imediatismo presente no futebol brasileiro em relação às trocas de técnicos ocorridas durante as temporadas dos clubes. Após a nova regra da CBF que restringe as alterações, será que algo vai mudar? Descubra a opinião dos treinadores!


Após a “dança das cadeiras” de técnicos ocorrida durante a temporada 2020/2021 nos clubes brasileiros em função do imediatismo por resultados melhores, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu impor medidas a fim de regularizar essa situação.
Durante a Série A 2020, apenas 3 treinadores se manteram em seus cargos: Renato Portaluppi (Grêmio); Jorge Sampaoli (Atlético-MG) e Guto Ferreira (Ceará). Entre os demais 17 times, ocorreram 28 trocas, sendo que a primeira demissão aconteceu logo na quarta rodada do Campeonato (Eduardo Barroca, que estava no Coritiba). Mais adiante na temporada, houve ainda profissional demitido com apenas 38 dias de trabalho, mesmo a principal dificuldade sendo a equipe desfalcada (Thiago Larghi, no Goiás).
A ideia de limitar as mudanças partiu do presidente da CBF, Rogério Caboclo, que já possuía o intuito de implantar o projeto há alguns anos. Na votação ocorrida, os clubes acordaram com a medida, com o placar de 20 votos a 11.
Votaram a favor: Atlético-MG, América-MG, Chapecoense, Corinthians, Fluminense, Internacional, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo e Sport.
Votaram contra: Atlético-GO, Athletico-PR, Bahia, Ceará, Cuiabá, Flamengo, Fortaleza, Grêmio e Juventude.

 

Como vai funcionar?

A nova regra, válida para as Séries A e B, define que uma equipe pode ter apenas dois técnicos ao longo da competição, e o treinador só pode trabalhar em dois clubes nesse tempo. No entanto, existem exceções… Se o próprio pedir demissão, o número de trocas não será contabilizado para o time; e caso a saída deste seja feita em comum acordo, a atitude não é contabilizada para nenhum dos dois lados. Em situações de exoneração por justa causa, a mudança também não é considerada.
Caso determinada equipe realize 2 demissões durante a competição, esta é obrigada a concluir a temporada com um funcionário já empregado em seguida, por no mínimo 6 meses.
De acordo com Caboclo, “É um grande avanço do futebol brasileiro, que fará bem tanto aos clubes quanto aos treinadores. Vai implicar em uma relação mais madura e profissional e permitir trabalhos mais longos e consistentes. É o fim da dança das cadeiras dos técnicos no futebol brasileiro”.

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Mas o que os técnicos pensam sobre?

Sabido isso, a PressFut se interessou em saber o que os principais envolvidos nessa nova regra pensam da medida e se estão otimistas para o fim do imediatismo no esporte. Para isso, vários profissionais da área foram entrevistados. Confira abaixo o que foi falado por eles:

Alberto Valentim

“Eu acredito que vá melhorar sim, porque não vai ter aquela loucura de trocas maiores de treinadores, vai ter sim uma cautela, um estudo maior por parte dos dirigentes para fazer a escolha do treinador, e isso também vai fazer com que se tenha um pouco mais de paciência, dando mais tempo pros treinadores trabalharem. Acho interessante isso, porque se fala muito em projeto e muitas vezes fica da boca pra fora, é muito na teoria. Então eu acredito que essa regra já é um passo pra organizar essa loucura que é esse troca-troca de treinadores brasileiros.” – Alberto Valentim, técnico do Cuiabá, para a PressFut.

 

Dorival Júnior

“Eu acredito que não resultará em uma grande mudança, mas uma mudança que venha a contribuir, não tenho duvidas disso. É um primeiro passo, nós queremos que o trabalho dos treinadores seja avaliado de uma maneira um pouco mais criteriosa, essa é a grande verdade. A partir do momento que isso acontecer, nós teremos condições de termos um profissional com um tempo maior à frente de sua equipe. Vocês podem perceber que todos os profissionais que ficam um tempo, que tem condições de poderem buscar uma correção ao longo dos meses, às vezes virando o ano, esse profissional consegue ter um domínio maior sobre sua equipe, as mudanças já são muito mais definidas, porque os atletas que estarão entrando já conhecem todos os movimentos, já sabem de todas as características que tem que cumprir, funções em campo, tudo isso é muito importante. Eu acho que seria um primeiro passo sim. Eu gostaria de acompanhar um ano em que nós tivéssemos os profissionais sendo mantidos e avaliados ao final de uma temporada, isso seria o correto e o ideal para que voltássemos a ter um futebol competitivo e onde os nossos profissionais pudessem ter uma avaliação do que podem ou não realizar em seus clubes.” – Dorival Júnior para a PressFut.

Allan Aal

“Eu acho até certo ponto positivo e vejo como uma tentativa de melhoria para amenizar essa loucura de trocas de treinadores que existe no Brasil, porém, como toda nova regra, só veremos se vai funcionar ou não na prática. Mas o que me deixa mais indignado, é que precisamos de uma regra para se normalizar o óbvio, que é o mínimo de tempo e sequência de trabalho necessário em qualquer empreendimento/profissão, e mais ainda no futebol, onde o treinador tem que implementar ideias de jogo na cabeça de 30, 35 atletas num ambiente de paixão de torcedores e pressão por resultados imediatos, e que também já foi comprovado com dados, que as trocas de treinadores geram pouco efeito na melhoria dos resultados. Eu seria mais a favor ainda de uma regra que não se limitasse o número de treinadores, mas sim que fosse obrigado a se pagar e cumprir, antes de qualquer troca, todos os direitos trabalhistas e financeiros para uma próxima contratação de um novo treinador. Acredito que daí sim diminuiríamos e os clubes passariam a analisar as trocas com mais profissionalismo e menos emoção.” – Allan Aal, técnico do Guarani, para a PressFut.

 

Matheus Costa

“Vejo como um caminho para uma mudança no futebol brasileiro. Temos que seguir exemplos de competições que hoje são modelos para o mundo todo. E nesses exemplos a troca de treinador durante a temporada é praticamente zero ou próximo a isso. Criar uma regra para diminuir a troca de treinadores já é preocupante pois mostra a fragilidade do treinador e a falta de convicção dos clubes onde as trocas são constantes. Agora, inicia-se um pequeno passo para o início de uma mudança no futebol brasileiro e espero que diminua a troca de treinadores durante a temporada e que assim, evolua as equipes para consequentemente evoluir o jogo e atrair cada vez mais os torcedores a assistirem os jogos”. – Matheus Costa, técnico do Operário, para a PressFut.

 

Felipe Freitas

“Acredito que seja um início para uma melhora, mas ainda muito pequeno, próximo às necessidades do futebol brasileiro de uma maneira geral, e é algo que está sendo focado na consequência e não nas causas, acredito que haja outras ações que podem ser mais eficientes e não gerar essas consequências, dentre essas o clube mudar de treinador várias vezes. Eu acho que é um início, mas é muito lento, demorado e pequeno mediante a todas as necessidades que o futebol brasileiro apresenta. O interessante dentre essas ações é a melhor estruturação dentre os clubes, não diria unicamente formar clubes-empresa, mas acho que é uma das alternativas desde que todas as empresas bem geridas dão muitos resultados. Então acho que faz sentido rever o sistema de contração e demissão dos clubes, porque fazem isso sem pensar em nada e sem ver a consequência. Responsabilizar profissionais como diretores e presidente por essas ações é comum, e recentemente eu vi de perto ações como demissões e contratações inadequadas simplesmente por um achismo. Então acredito que muitas tomadas de decisão melhores poderiam ter sido realizadas, dentre elas refazer estruturalmente o modelo de campeonato. Tem muitas outras ações que eu acho que atuariam diretamente nessa consequência de troca de treinadores, porque os treinadores são trocados por falta de profissionalismo por um critério mais sólido em uma contratação, por uma irresponsabilidade, diretores ou presidentes, enfim, de contratar um treinador simplesmente por um motivo que não seja um histórico e evidências de que terá um bom resultado, acredito que isso sejam as partes mais importantes.” – Felipe Freitas, técnico do Santos, para a PressFut.

Taís Miotti

Economista falando de futebol nas horas vagas.
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