Estádio do Pacaembu.
Futebol, Futebol Nacional

80 anos do seu, do meu, do nosso Pacaembu!

Completando 80 anos, o Estádio do Pacaembu vive um momento bem diferente do habitual. Abandonado e em meio a um processo de concessão, ele se mostra importante no combate ao coronavírus e na presença do cidadão paulistano.


O Estádio Paulo Machado de Carvalho, conhecido popularmente como Pacaembu, completa seus 80 anos diante da maior crise de sua história. Isso acontece por diversos motivos, sejam eles políticos ou sociais. Mas é nesse momento que ele prova ser um gigante não só do nosso futebol, como da nossa sociedade.

Inaugurado em 27 de abril de 1940, o estádio foi imortalizado na voz do locutor Edson Sorriso, que criou o famoso bordão “O seu, o meu, o nosso Pacaembu”. Entretanto, com a construção das novas arenas e estádios para a Copa do Mundo de 2014, o estádio foi ficando de lado. Atualmente, nenhum clube paulista manda seus jogos nele. Com isso, a prefeitura decidiu abrir uma concessão de 35 anos para o estádio, que começou a partir de 25 de janeiro de 2020.

“O bordão continua. O Pacaembu continua sendo seu, meu e nosso. Ele abraça todo mundo, não dá para apagar a história. Só deixa de ser municipal, porque está com a concessão. Vou tirar o ‘municipal’ da locução e criar uma chamada nova, até para dar moral para a empresa (Allegra) que está chegando”. – Edson Sorriso, em entrevista concedida ao Estadão.

Felizmente, Edson está certo, não dá para apagar a história. Com tantos jogos marcantes, o estádio recebeu Copa do Mundo, final de Libertadores, final de Campeonato Paulista e muito clássico paulista. Entretanto, uma matéria da UOL revelou que troféus e outros objetos que guardam essa história foram jogados no lixo sem mais nem menos no início desse ano.

A primeira década do Pacaembu

A Suécia fez grande jogo e derrotou a Itália.
Na vitória da Suécia contra a Itália na Copa do Mundo de 1950 é possível ver que goleiro de chapéu era mais comum do que goleiro com luvas.

Construído no Governo de Getúlio Vargas, o Pacaembu estreou em 1940 com uma partida entre Palestra Itália (atual Palmeiras) e Coritiba. Com apenas dois minutos de jogo, Zequinha marcou para o Coxa. Apesar disso, o Palestra virou a partida e venceu por 6 a 2. Durante a década, o estádio recebeu grandes jogos de equipes brasileiras e viu os clubes paulistas golearem diversas vezes. Porém, o primeiro grande evento do estádio viria em 1950.

Palco da Copa do Mundo de 1950 no Brasil, sendo o representante de São Paulo, o Pacaembu recebeu jogos como:

Flag of Sweden.svg Suécia 3 a 2 Flag of Italy.svg Itália
Brasil Brasil 2 a 2 Flag of Switzerland.svg Suíça
Flag of Italy.svg Itália 2 a 0 Flag of Paraguay.svg Paraguai
Flag of Uruguay.svg Uruguai 2 a 2 Flag of Spain under Franco.svg Espanha
Flag of Uruguay.svg Uruguai 3 a 2 Flag of Sweden.svg Suécia
Flag of Sweden.svg Suécia 3 a 1 Flag of Spain under Franco.svg Espanha

Obviamente, o estádio não recebeu a final, pois para isso, foi construído no Rio de Janeiro, o poderoso Maracanã. Contudo, entre os jogos acima, ele pôde sediar jogos da fase de grupos até jogos da fase final, acompanhando dois meses de Copa do Mundo. Inclusive, antes da construção do Maracanã, o Pacaembu foi o maior estádio da América do Sul.

História pós Copa do Mundo

O Pacaembu também recebeu os jogos Panamericanos.
Reprodução da capa do jornal A Gazeta Esportiva que traz o título: “Mais de 70 mil pessoas aplaudiram os atletas das três Américas”, na cerimônia de abertura dos IV Jogos Pan-Americanos de 1963, de São Paulo.

Apesar de ainda ser conhecido como Pacaembu, em 1961 o nome oficial do estádio passou a ser Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, em homenagem ao chefe da delegação brasileira da Copa do Mundo de 1958, onde o Brasil foi campeão. Dois anos depois, o estádio receberia os Jogos Pan-americanos de 1963 após passar por reformas. Com São Paulo como sede dos jogos, o estádio foi palco da cerimônia de abertura e encerramento dos jogos e das finais do futebol e do atletismo, ganhando um destaque maior do que na Copa do Mundo de 1950.

Além de eventos internacionais, o Pacaembu recebeu finais nacionais. Em 1994, o estádio recebeu as finais do Campeonato Brasileiro entre Palmeiras e Corinthians, o famoso derby paulista, onde o Palmeiras levou a melhor. No ano seguinte, foi a vez de receber um jogo da final entre Santos e Botafogo, que no caso, foi melhor para a equipe carioca, que saiu campeã. Depois disso, o estádio só voltou a receber uma final de Campeonato Brasileiro em 2011, mas já com pontos corridos, não era bem uma final. Ainda assim, viu o Corinthians comemorar o título brasileiro no seu gramado.

Para encerrar sua participação na história efetiva dos clubes paulistas, o estádio recebeu as finais da Libertadores de 2011 e 2012. Primeiro, viu o Santos de Neymar levar a Taça da América. No ano seguinte, foi a vez de ver o Corinthians de Tite brilhar contra o Boca Juniors e pela primeira vez ganhar a Libertadores. Depois disso, sobrou apenas a história. Em 2017, o prefeito João Dória levantou a ideia de privatizar o estádio que, agora em 2020, já com seu sucessor Bruno Covas, foi entregue em uma concessão de 35 anos para a empresa Allegra.

A grandeza de um símbolo

Pacaembu.
O tradicional Pacaembu virou um hospital de campanha para receber infectados pelo coronavírus.

Completando oito décadas, o estádio que já recebeu cerca de 70 mil torcedores agora abriu suas portas para receber 200 paulistanos que precisam de cuidados médicos. O Pacaembu virou um dos primeiros e principais hospitais de campanha do Estado de São Paulo na luta contra o novo coronavírus. Um aniversário triste, mas que mostra a grandeza de um dos maiores símbolos de São Paulo e do Brasil.

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Se hoje não goza de grandes jogos, se mostra eterno na memória. Mesmo em tom melancólico, isso não é uma despedida do estádio, que ainda é lembrado quando algum clube paulista faz shows em sua casa. Socialmente falando, seu valor é lembrado a cada dia. Em meio a uma pandemia, se faz presente.

Por mais que hoje pertença a um proprietário, o Estádio do Pacaembu continua sendo o seu, o meu e o nosso Pacaembu!

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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