Goleiro Manga.
Crônicas, Futebol

O goleiro: entre as três traves, o fuzilamento

“Goleiro. Também chamado de porteiro, guarda-metas, arqueiro, guardião, golquíper ou guarda-valas, mas poderia muito bem ser chamado de mártir, vítima, saco de pancadas, eterno, penitente ou favorito das bofetadas. Dizem que onde ele pisa, nunca mais cresce grama.” – Eduardo Galeano no livro: Futebol ao Sol e à Sombra


Ser o número um nem sempre é um bom sinal. No futebol, quando um jogador comete um pênalti, é o goleiro quem paga o pato. Para se desculpar, o jogador que cometeu o pênalti pode se redimir com uma jogada futura. Mas ai do goleiro que falhar. Não cabe a ele, desmancha-prazer de evitar um gol, se redimir futuramente. Ficará marcado. E como de costume, será julgado.

Ele é solitário. Enquanto a magia acontece no meio de campo, ele observa a festa. Pode ser interessante ter um ingresso VIP para assistir ao jogo. Contudo, a responsabilidade não permite esse prazer. Enquanto toma seu café, precisa ficar atento. Goleiro não lê jornal.

Entretanto, foi desse solitarismo que surgiu o dia do goleiro. Pois é, os humilhados foram exaltados. Ídolo do Botafogo, time da estrela solitária, Manga fez história. Suas boas atuações renderam-lhe a idolatria não só no alvinegro carioca. Mas no Inter de Porto Alegre, na Seleção Brasileira e no Nacional do Uruguai. A partir daí, surgiu então, no dia 26 de abril – dia de seu aniversário – o dia dos odiados. Ou então: o dia dos goleiros.

A eterna culpa do goleiro

De nada adianta para o goleiro, todos os seus momentos de santo se, em algum momento, decidir negativamente uma partida, ou um campeonato. Será então, para sempre, perseguido. E se não cabe a qualquer goleiro errar, imagine para o negro. Barbosa pagou até o dia de sua morte – e carrega até hoje – a culpa pela derrota para o Uruguai em 1950. A diferença, é que não houve culpa. Não houve uma falha. Está aí então, o privilégio do goleiro branco. Mesmo ficando marcado, nenhum 7 a 1 acabará com sua carreira. Imagine só se fosse o Jefferson no gol.

O goleiro é o número um por um motivo. Ele é um só. E sempre só. Em campo, não recebe abraços após um gol. Fora dele, é deixado de lado ao sofrer. Além de carregar nas costas o número um, carrega o peso das derrotas. Mas ele fica ali. Tem suas particularidades. Usa luvas, roupas diferentes e pega a bola com as mãos. Talvez não seja tão ruim ser goleiro, pois até Pelé já se aventurou. Por mais que seja uma enorme responsabilidade, ser goleiro é, acima de tudo, uma conduta de coragem.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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