Barroquismo do porrete ao estilingue. Crédito: Albari Rosa/Foto Digital/Tribuna do Paraná.
Futebol, Futebol Nacional

O Barroquismo do porrete ao estilingue

Entre vitórias, demissão e acesso, Eduardo Barroca tenta se firmar nesse começo de carreira. O Barroquismo já não tem mais seus encantos, mas começa a evoluir de maneira gradativa.


Em seu terceiro trabalho profissional, Eduardo Barroca – técnico da nova geração – vive um bom momento. Com 72% de aproveitamento no campeonato estadual, o Coritiba dá ao Barroca, mais uma chance do treinador disputar a primeira divisão brasileira.

Entretanto, entre os bons momentos como a vitória contra o rival Athletico Paranaense, o Coxa amargurou a eliminação precoce da Copa do Brasil para o modesto Manaus, logo na primeira fase da competição.

Com uma notória evolução defensiva, o coxa-branca mostra uma postura agressiva mesmo sem a bola, algo que o treinador conseguiu evoluir desde seus últimos trabalhos. Contudo, o poderio de ataque ainda é algo fraco no barroquismo. Nesse início de carreira, Eduardo Barroca ainda não conseguiu encontrar um equilíbrio no ataque.

Da mesma forma que a defesa evoluiu, a transição também melhorou. Com ataques intensos em transições rápidas, o último jogo do Coritiba antes da paralisação por conta do novo coronavírus causou um certo ânimo na torcida do verdão. Especificamente nesse jogo, o ataque foi bem.

Aproveitando a pausa do futebol por conta do coronavírus, Barroca sugeriu uma mudança no calendário do nosso futebol.

“Esse período de inatividade forçada é uma grande oportunidade para a gente discutir a fundo o calendário, de como qualificar as equipes menores com um calendário mais volumoso. Talvez até equiparar nosso calendário de uma vez por todas ao europeu”. – declarou ao SporTV na última quarta-feira.

O porrete como linha do tempo de sua carreira

Barroquismo. Crédito: Vitor Silva/Botafogo
Eduardo Barroca, de origem simples, gosta de enfatizar o trabalho em equipe. Crédito: Vitor Silva/Botafogo

Existem algumas maneiras de controlar o jogo a partir da posse de bola. Se você tiver peças para atacar em velocidade com passes precisos você pode fazer isso. O jogo será controlado por sua equipe e provavelmente conseguirá ser muito efetivo no ataque.

Mas se não possuir as peças ou tenha um adversário mais forte, ao invés de se retrancar, pode-se usar a bola como o famoso porrete filosofal de Eduardo Barroca: desacelera e esfria o jogo, e não sofre ataques do adversário. Com a bola nos pés, busca controladamente chegar ao gol. Em alguns momentos, conta com a individualidade de um atleta mais habilidoso.

“Imagina que alguém te fala: vocês dois vão sair na porrada agora, num quadrado, durante 10 minutos. Por sete minutos, um de vocês vai poder ter um porrete na mão. E nos outros três, o outro terá o porrete. Para mim, a bola é o porrete. Não quer dizer que eu vou vencer, posso ter o porrete e você pode me acertar um soco no queixo. Mas se alguém me perguntar se prefiro ficar mais tempo com o porrete, prefiro. A lógica para mim é essa. A bola é uma forma de me aproximar de vencer e afastar o adversário da vitória.” – Barroca em entrevista ao jornal O Globo.

Na maioria das vezes, os treinadores são obrigados a tomar uma decisão: abdicar do seu estilo de jogo pelas peças disponíveis no elenco, ou limitar as peças ao esquema de jogo. Barroca tenta mesclar, mas preferivelmente, mantém sua filosofia. Nas categorias de base, foi algo que lhe rendeu muitos títulos, mas era algo diferente, ele tinha jovens em formação. Agora, a dificuldade é outra, pois além dos resultados a curto prazo, que chegou a conseguir no Botafogo, precisa manter um equilíbrio.

Seus times não sofrem muitos chutes em sua meta, mas também não atacam muito. No Botafogo, primeiro clube entre os quais treinou, tinha um meio de campo cadenciado para fazer a transição defesa-ataque, o que por um lado prevenia lesões nos atletas, mas por outro, dificultava seu estilo e causava irritação na torcida ao esfriar os jogos.

O jogo sonolento não irritou apenas a torcida, mas profissionais da mídia, que em alguns momentos chegaram a pegar pesado com o treinador, fazendo com que pessoas replicassem o que era dito, sem levar em consideração alguns contextos da equipe. Ainda assim, em debates mais saudáveis, foi possível levantar questões sobre estilos de jogo.

A ideia do porrete, que é super válida e faz total sentido, foi perdendo aos poucos o encanto já no Botafogo. A equipe que apareceu no grupo de classificação para a libertadores no início do campeonato brasileiro, foi se distanciando aos poucos, o que causou uma freada na euforia que até certo ponto foi hypada, além de já não oferecer mais a segurança que um porrete lhe dava em época de tecnologia.

“Costumo falar que se te derem um estilingue com dez bolas de gude para você subir a Rocinha e tomar a favela do Nem (que chefiou o tráfico local) você terá dificuldade. Isso envolve individualidade, ações coletivas, hábito.”- Barroca ao Globo Esporte.

Tipos de ataque mais frequentes nas sequências ofensivas.
Estudo de Rodrigo Leitão mostra que o ataque posicional, ao estilo Barroca, é o tipo de ataque mais frequente nas sequências ofensivas.

É sempre importante lembrar que não existe um estilo de jogo certou ou errado. Tudo depende do contexto. Pode ser que em determinados momentos, Barroca tenha errado ao apostar em um time propositivo, mas de qualquer forma, é algo que ele acredita.

O barroquismo não se limita ao campo de jogo. Quando era auxiliar-técnico do Bahia, Eduardo Barroca criou um departamento de análise de desempenho no clube tricolor. Algo que ainda é muito fraco no Brasil.

Entre a saída do Botafogo e a chegada ao Coritiba, Barroca comandou o Atlético Goianiense na campanha do acesso do clube a Série A. Mas por problemas familiares, não continuou no dragão.

Com o atual trabalho no Coritiba, o treinador voltou a ser especulado em grandes equipes, como o Vasco, que após a demissão de Abel Braga, sondou o técnico.

Se o barroquismo terá futuro, não sabemos, mas Eduardo tem totais condições de se configurar como um bom treinador. Seu trabalho precisa de ajustes, mas está evoluindo aos poucos.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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