Homenagem à Lily Parr.
Futebol, Futebol Feminino

Lily Parr: a primeira mulher no Hall da Fama do Futebol Inglês

Durante a Primeira Guerra Mundial, 53 mil pessoas foram ao estádio prestigiar Lily Parr e suas companheiras. O sucesso feminino incomodou os engravatados, que proibiram as mulheres de jogar futebol. Desafiadora, Lily viveu até ver a proibição ser revogada.


Os últimos anos mostraram que o futebol feminino tem grande força e vive uma ascensão. Entretanto, a luta dessas mulheres não começou agora. Desde a Primeira Guerra Mundial, Lily Parr e suas companheiras já mostravam seu valor e, como de praxe, incomodavam os engravatados. Lilly foi uma jogadora inglesa que atuou pelo Dick, Kerr’s Ladies, time fundado em 1917 com sede em Preston, Lancashire. Em 2002, ela foi a primeira mulher a entrar no Hall da Fama do Futebol Inglês.

Mas para isso acontecer, foi preciso apenas ser quem ela era. O Kerr’s Ladies é uma equipe de fábrica, como quase todas as outras da época. Por trabalharem na fábrica, as mulheres começaram a jogar futebol durante a primeira guerra. Lily, que atuava pelo St Helens Ladies (time de sua cidade) como zagueira em 1919, passou a atuar como atacante ao fazer parte da equipe de Preston. Isso porque a perna esquerda da jovem era um verdadeiro canhão, que não deixava os goleiros com muitas chances de defender seus chutes.

Alfred Franklin, treinador que pediu a contratação da atleta, se surpreendeu cada vez mais com os desempenhos da jovem. Na primeira temporada pela equipe, ela marcou 43 gols. Números que até hoje são exaltados. Acumulando bons resultados, o time ganhou grande destaque. Mesmo dividindo o tempo entre o trabalho na fábrica e o futebol, as mulheres conseguiam ótimos desempenhos. Dessa forma, começaram a ser convidadas para jogarem contra novas equipes.

Lily Parr e a primeira ascensão do futebol feminino

Equipe do Dick Kerr's Ladies.
Equipe do Dick, Kerr’s Ladies.

Em meio a um cenário de guerra, o futebol feminino passou a ser uma das maiores atrações da Inglaterra. Certamente, Lily era a mais idolatrada. Em 1920, contra o St. Helen, mais de 53 mil pessoas estiveram presentes no estádio para acompanhar o jogo. Um dos momentos mais marcantes até hoje da modalidade. Entretanto, essa popularidade não serviu para o futebol feminino ganhar incentivos. Aliás, a Associação Inglesa seria uma grande inimiga.

Primeiro, começaram as pressões em cima de Lily, que “não se encaixava nos padrões femininos”. Antes dos jogos, ela fumava e mantinha uma pose masculina. Já naquela época, se declarava lésbica abertamente, inclusive, passou a morar com sua esposa, que conheceu no hospital onde passou a trabalhar depois de sair da fábrica. Dessa forma, também se vestia diferente das demais companheiras. Com o sucesso cada vez maior no ano seguinte, a FA decidiu proibir as mulheres de jogarem futebol. A alegação foi de que o esporte era inadequado para o sexo feminino.

Para muitos clubes, restou apenas a falência. Contudo, Lily Parr não acatou as ordens de parar de jogar. Ela continuou atuando até 1951 (aos 45 anos), marcando 980 gols em 32 anos de carreira. Existem até algumas histórias difíceis de se validar, porém, interessantes. Inclusive, uma delas é contada de formas diferentes. A ocasião foi quando ela quebrou o braço da goleira adversária com seu potente chute de esquerda. Alguns contam essa história dizendo que na verdade foi um goleiro profissional (homem), que teria desafiado Lily Parr.

O legado

53 mil pessoas foram ver Lily.
53 mil pessoas foram ver Lily Parr.

Aposentada, Lily Parr faleceu em 1978. Felizmente, conseguiu viver a tempo de ver a proibição do futebol feminino ser revogada no país. Já inspirando novas atletas, Lily passou de ícone para uma lenda. Homenageada em todos os lugares, a ex-jogadora foi a primeira mulher a entrar no Hall da Fama do Museu do Futebol, tendo também, uma estátua no Museu Nacional do Futebol de Manchester. Atualmente, duas copas homenageiam seu legado: a Dick, Kerr’s Cup na Inglaterra e a Copa Lily Parr no Brasil. Inclusive, a ligação com o Brasil aumentou quando a ilustradora Carolina Coroa ilustrou um livro infantil sobre Lily Parr, publicado na Inglaterra.

Portanto, Lily está bem representada pelas novas atletas que lutam por um espaço no esporte. Certamente, vemos um novo crescimento na categoria. Se Lilly colocou 53 mil pessoas em um estádio, hoje o futebol feminino bate recordes de audiência. No Brasil por exemplo, a final do Campeonato Paulista superou jogos da Premier League e da Bundesliga masculina. São tempos diferentes mas um mesmo desejo: terem condições de jogar futebol e serem respeitadas.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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