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Futebol, Futebol Internacional

A tornozeleira eletrônica de Jamie Vardy

Em 2007, uma briga envolvendo o atacante do Leicester City levou o então amador, para a polícia. A tornozeleira eletrônica de Jamie Vardy foi a pena por defender um amigo deficiente auditivo que havia sido agredido em um bar.


Ídolo e destaque do Leicester City, Jaime Vardy ficou famoso em 2016, quando foi o artilheiro da Premier League e campeão inédito da competição com o Leicester. Mas como muita gente já sabe, sua vida antes disso não foi nada fácil. Inclusive, disputava competições de último escalão antes de chegar ao clube. Todavia, o que pouca gente sabe, é que Jamie Vardy teve uma passagem pela polícia. Contudo, de uma forma inusitada.

Em 2007, Vardy nem sonhava em ser atacante da seleção de seu país. Na época, ele jogava pelo modesto Stocksbridge Park Steels, hoje, na oitava divisão inglesa. Antes disso, foi dispensado pelo Sheffield Wednesday aos 16 anos por ser “baixo demais”. Em ambos os clubes, as 30 libras semanais ainda não era um sustento para ele e sua família. Por isso, Vardy trabalhava simultaneamente em uma fábrica durante 12 horas por dia.

Mas além das dificuldades financeiras, o pequeno atacante teve que enfrentar problemas com a polícia. Aos 20 anos, se envolveu em uma briga de bar. Saindo em defesa de um amigo deficiente auditivo, Vardy partiu para cima. Contudo, acabou sendo condenado criminalmente por isso. Como punição, teve que usar uma tornozeleira eletrônica por seis meses, permanecendo em prisão domiciliar das seis horas da noite às seis da manhã. O que impactou até mesmo em seu futebol.

A tornozeleira eletrônica de Jamie Vardy e suas limitações

A tornozeleira eletrônica de Jamie Vardy.
Jamie Vardy no tempo de Stockbridge Park Steels. Crédito: Laurence Griffiths/Getty Images
“Jamie tinha que estar em casa sempre às 18:00. Ele usava uma tornozeleira eletrônica, era sempre controlado pela polícia, quando jogávamos fora de casa nós tínhamos que ter atenção, porque ele não podia ficar a uma distância de mais de 40 minutos de sua casa. Ele trabalhava numa fábrica de próteses em Sheffield e depois do almoço ia treinar. Uma vez, sua mãe chegou perto do banco de reservas e disse: ‘Mister, está tarde, quando você vai tirar o Jamie, a polícia vai chegar.’ A gente substituiu ele na hora, Jamie teve que sair correndo de carro para casa, pra chegar a tempo do horário estipulado pela polícia.” – Gary Marrow, primeiro treinador de Vardy no Stocksbridge
Após a condenação, Vardy teve uma rotina apertada, tendo que correr do treino para casa, e da casa para o treino. Sempre cumprindo a imposição sobre o toque de recolher. “Ele não começou a briga, mas a terminou”, descreve o presidente do Stocksbridge.
“Não tenho orgulho do que fiz, mas me levantei e o defendi, o que eu sempre faria por um amigo, e isso acabou me encrencando um pouco. Essa é uma das coisas que me fez a pessoa que sou hoje. Foi difícil, isso tem um efeito na sua família, tendo que ficar constantemente em casa porque não era permitido sair. Foi duro não poder fazer o que qualquer rapaz normal de 20 anos estaria fazendo, saindo e tal.” – relembrou Vardy em entrevista após sua primeira convocação para a seleção inglesa.

O passado não condena

Vardy: da tornozeleira eletrônica para a chuteira de ouro.
Vardy: da tornozeleira eletrônica para a chuteira de ouro. Crédito: Reprodução/Leicester

O tempo passou, Jamie Vardy retirou a tornozeleira eletrônica e se tornou um grande jogador. Naquela temporada mágica de 2016, o atacante marcou em 11 rodadas consecutivas, batendo o recorde do histórico Ruud van Nistelrooy. Hoje, Vardy é ídolo do Leicester e se mostra grato pelo clube. Pela seleção inglesa, o atacante anunciou sua aposentadoria após disputar a Copa do Mundo de 2018. Como era reserva, alegou querer focar apenas no Leicester e dar oportunidades para novos talentos ingleses na seleção.

“Para ser honesto com você, isso está na minha cabeça há algum tempo. Eu disse a Gareth que acho que é melhor a partir de agora, especialmente com o jeito que ele pretende agir, trazer os jovens que ele acha que tem a habilidade e começar a formá-los para o futebol internacional.” – afirmou em entrevista ao The Guardian na época.

Portanto, livre para cabecear, o atacante voou alto. Ou seja, seu passado não o condenou. Vardy driblou as adversidades e conquistou diversos prêmios, como a chuteira de ouro por exemplo. E hoje sabemos os motivos da tornozeleira eletrônica de Jamie Vardy. O futebol ajudou o pobre menino que, de certa forma, foi um herói para o amigo. Por isso, aquela condenação virou motivo de orgulho. Mas hoje, tenta não repetir. É possível ser um novo espelho.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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