- Botafogo e Vasco se enfrentam em busca dos melhores objetivos no Brasileirão O Estádio Nilton Santos recebe Botafogo e Vasco pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro, nesta terça-feira (05). - 5 de novembro de 2024
- “A torcida do Botafogo que me colocou ali. Nós somos um grande amor!”, diz Fernanda Maia Fernanda Maia é locutora do estádio do Botafogo desde 2019 - 5 de julho de 2024
- Almada desembarca no Galeão para se apresentar no Botafogo Thiago Almada se torna a contratação mais cara da história do futebol brasileiro, superando Luiz Henrique, também do Botafogo. - 4 de julho de 2024
“Pelé de Danúbio”, assim é lembrado Matthias Sindelar, o homem convocado por Hitler para jogar pela Alemanha Nazista. Aos 35 anos, se tornou uma lenda austríaca e foi imortalizado pelo próprio inimigo. Como a população de seu país dizia: ele foi uma parte inteira da Áustria na história.
Habilidoso com a bola nos pés e reconhecido como craque, a vida de Matthias Sindelar começou de outro modo. Judeu (já seus registros são marcados como católico, com um possível motivo aparente), vinha de uma família humilde com origens Tcheca. Ao perder seu pai na Primeira Guerra Mundial, começou a trabalhar de serralheiro aos 14 anos para ajudar a mãe. Nascido em 10 de fevereiro de 1903, foi o primeiro filho.
Antes mesmo de seu pai falecer, a família se mudou de Kozlov para a capital Viena, buscando melhores condições. Durante o período da Primeira Guerra, Sindelar começou a atuar nas categorias de base do Hertha Viena, que vivia uma época de resultados ruins em campo até sua chegada, que ficou marcada por uma reação. Após muitos gols pelo clube, o atacante foi se tornando um grande craque até chegar no Amateure, o conhecido Austria Viena, tradicional clube reconhecido hoje em dia.
“Ele tinha cérebros nas pernas e muitas coisas notáveis e inesperadas ocorreram quando estavam correndo”. – disse Alfred Polgar, crítico de Teatro.
Apelidado de “Paper Man” (homem de papel) e/ou “Der Papierene” (bailarino de papel) por ser magro, alto, branco e ter uma leveza única para jogar futebol, o jogador chegou facilmente à Seleção Austríaca. Com 6 gols nos 2 primeiros jogos, ele parecia voar em campo, exibia sua elegância com toda sua elasticidade e agilidade. Por sua seleção, ganhou o título da Copa Internacional de 1931-32. Mas ainda defenderia como ninguém as cores de sua bandeira.
A chegada de Hitler na vida de Sindelar
Como sabemos, de 1933 a 1945, a Alemanha, país vizinho da Áustria, vivia em um regime nazista, comandando por Adolf Hitler. Também nascido na Áustria, o líder totalitário, já naturalizado Alemão, queria repetir as glórias de um fascista: Benito Mussolini. Respeitado por Hitler, o Italiano ganhou 2 Copas do Mundo com uma certa influência. Ele convocava bons jogadores de outros países – incluindo Filó, primeiro brasileiro a ser campeão do mundo – para se tornar a maior potência mundial. Na final da Copa sediada na Itália em 1934, também escolheu o árbitro da final. Misturando o futebol com sua política, Hitler aproveitou a estratégia de Mussolini para ocupar a Áustria e pedir a apresentação de 8 jogadores austríacos na Seleção Alemã.
Conhecida como “Wunderteam” (equipe fantástica), que só perdeu para a Itália, a Áustria foi obrigada a ceder os selecionáveis escolhidos a dedo por Hitler. A lista foi encabeçada justamente pelo artilheiro Sindi, que logo de cara rejeitou jogar pela Alemanha. Após a apresentação de seus antigos companheiros na nova seleção, eles jogaram um amistoso de comemoração pela ocupação nazista na Áustria que deveria terminar em 0 a 0. Atuando por seu país, Sindelar fez questão de vencer a partida (que terminou 2 a 0 para a Áustria) e ainda fez o primeiro gol que ficou marcado por sua comemoração. Simplesmente, o atacante correu em direção ao palco das autoridades nazistas e zombou dos militares presentes.
“Não há relato de maior coragem e respeitabilidade na história do futebol que a desse atacante pouco lembrado nos dias de hoje, que pagou com a vida a negativa de cumprir ordens do maior criminoso da história da humanidade.” – Edgardo Martolio, no livro “Glória Roubada”.
Para Hitler, foi muito difícil assimilar a derrota Alemã, já que ele havia conquistado 7 jogadores do rival (que foram analisados por um bom tempo pelos nazistas). Já incomodado com a “traição” de Sindelar, Hitler surtou com a provocação de um mero atleta de “raça inferior”. Tentando apaziguar a situação, o ministro da Propaganda Nazista, Joseph Goebbels, chamou o atacante dizendo que se ele defendesse a Alemanha na Copa da França – um mês depois – e os germânicos conquistassem o título, a ofensa seria esquecida.
Para mais uma decepção Nazista, o austríaco novamente se recusou a jogar para os invasores, decretando ali, o encerramento de sua carreira. Entretanto, com mais polêmica. Primeiro, Sindelar deu a desculpa que estaria gravemente machucado e não tinha mais como jogar futebol. Com isso, perdeu a chance de ser perdoado, principalmente, quando um colega de equipe – que era um membro sigiloso do Partido Nazista – delatou o atacante. O membro do partido revelou que era mentira dele para não se entregar a Alemanha. Logo, o enfurecido Hitler reapareceu para proibir o jogador de jogar por qualquer time e de atravessar as fronteiras. A Áustria ficou de fora da Copa do Mundo, que aconteceu com uma seleção a menos, já que a Inglaterra não quis ocupar a vaga ociosa.
Depois de todo esse sofrimento, as coisas só pioraram na vida de Sindelar e de pessoas próximas. Os próprios clubes onde o jogador conquistou idolatria, foram proibidos de atuar (o Austria Viena já seria punido por ser um clube Judeu). Por causa da perseguição a seus amigos e familiares, ele decidiu largar de vez o esporte. Mas nada disso funcionou. Após abrir uma cafeteria, continuou tendo problemas com o povo nazista. Hitler também não havia esquecido dos “insultos sofridos”.
A pressão era grande demais na vida de Sindi e, em 23 de janeiro 1939, o corpo do ex-jogador e de sua companheira foram encontrados mortos na cama pelos bombeiros de Viena. A causa da morte foi um suposto vazamento de gás que os sufocou. Aos 35 anos, Sindelar deixou a vida e se tornou uma lenda por tudo o que fez pela Áustria, tanto dentro de campo, quanto fora dele. Talvez seu amor a pátria tenha feito o ódio de Hitler ser menor por ele, o azar foi que esse patriotismo foi justamente contra o Nazismo. Inclusive, anos depois, em um tributo, a rua em que o craque nasceu e cresceu, passou a se chamar Sindelarstrasse. Hitler eternizou o jogador.
Seu velório foi acompanhando por quase 20 mil pessoas. Quantidade condizente com os estádios da Copa do Mundo daquela época. Se foi suicídio ou acidente, não sabemos, aliás, existem várias versões para o caso. Realmente, é de se suspeitar. Imortalizado em campo, na luta e em poesia. Friedrich Torberg, poeta na época do exílio, dedicou uma de suas obras a quem admirava.
“Jogava futebol como ninguém
Tinha graça e fantasia
Tinha um toque fácil e alegre
Sempre jogava e nunca lutava”.
*Explicando a última frase do poema, Friedrich não disse lutar no sentido que conhecemos hoje, mas sim porque Sindelar odiava contato físico e usava do drible e sua leveza para se desmarcar e sobressair no jogo. Era imparável.